Leonardo Sakamoto
A greve contra a privatização do Metro, da CPTM e da Sabesp acabou como previsto após 24 horas. E, como previsto, os problemas da linha 9-Esmeralda privatizada não têm data para acabar.
Enquanto as linhas de trem geridas pelo poder público amanheceram funcionando normalmente, o problemático ramal acordou ainda sem resolver totalmente o chabu desta terça, quando parte do sistema parou por falha elétrica. De novo. Com isso, a lentidão causa transtornos.
Ao defender o processo de privatização do transporte sobre trilhos em São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas colocou a mão no fogo pela Via Mobilidade – braço da CCR, que administra, entre outras, a Esmeralda.
Disse que as linhas que haviam sido transferidas à iniciativa privada “não estão deixando o cidadão na mão” em coletiva à imprensa na qual criticou a greve dos trabalhadores do Metrô, da CPTM e da Sabesp.
Isso mostra que ele não acompanha como deveria o que acontece com a referida linha de trem. Caso contrário, nunca teria feito uma aposta pública como essa. Tanto que, poucas horas depois da declaração, a realidade desmentiu o governador.
A operação da 9-Esmeralda é uma fonte de dor cabeça para os paulistas desde que foi privatizada – eu sei, sou um dos usuários que já ficou na mão. Os constantes descarrilamentos, acidentes e falhas levaram o Ministério Público de São Paulo a estudar o fim do contrato com a Via Mobilidade, o que gerou duras críticas do próprio Tarcísio, que defendeu a concessão.
Um levantamento da TV Globo, de 18 de setembro, apontava a Esmeralda como campeã de falhas em 2023, com 50 ocorrências, seguida pela linha 8-Diamante, com 23 – ambas são administradas pela Via Mobilidade. Depois, vêm as linhas Safira (10), Coral (9), Turquesa (6) e Rubi (4), todas geridas pela CPTM.
Em 14 de agosto, o MP-SP formalizou um Termo de Ajustamento de Conduta com a empresa para que ela dê um jeito nas linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda. Segundo nota do MP-SP, a empresa aceitou pagar uma indenização por “falta de qualidade na prestação de serviços”.
Pelas longas filas de trabalhadores tentando se virar após confiarem que o transporte público privatizado não pararia, jeito ela não deu.
O governador tem todo o direito de defender sua visão para o Estado que administra, incluindo a privatização. Mas fica uma lição: é de onde não se espera nada que nada vem mesmo. Confiar na linha 9-Esmeralda é tão arriscado como saltar de um avião com uma sacola plástica ao invés de um paraquedas.
Publicado originalmente na coluna de Leonardo Sakamoto, no Uol
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