Publicado originalmente no blog do autor
POR MOISÉS MENDES
Imagine-se a desolação dos técnicos do Ministério da Saúde em uma reunião com Nelson Teich. Já é terrível em uma coletiva com muita enrolação e frases que se repetem e não dizem nada.
Gente que estudou, tem trajetória de defesa da saúde pública, que se dedica a salvar vidas e agora é comandada por um sujeito que tem apenas voz de locutor.
Todo o engambelador da direita tem voz empostada. O gestor gaúcho é assim. É o recurso da moda entre eles. Engrossar a voz para camuflar vazios.
Leiam essa frase dita por ele hoje:
“Como a gente tem manutenção dos números elevados e crescentes, a gente tem que abordar isso como um problema, uma curva que vem crescendo, como um agravamento da situação”.
O resumo é: a situação ficou grave porque tem mais gente se infectando e morrendo. Pronto.
Mas é preciso enrolar, para diluir a falta de informação e conhecimento no meio de bobagens. É como se um economista neoliberal falasse de inflação.
São 5.017 mortos, 71.886 infectados. Mas os relatos são de que o homem não conversa com ninguém, não atende os secretários estaduais de Saúde, não responde demandas, não fala coisa com coisa.
Luiz Henrique Mandetta e seus técnicos foram mandados embora não só porque defendiam o isolamento e contrariavam os interesses de Bolsonaro misturados aos de vendedores de cloroquina.
Foram dispensados porque eram realistas e contavam todos os dias o que estava acontecendo. Nem os generais queriam saber dessas verdades.
Um governo de extrema direita tinha servidores da saúde dizendo, quase em tempo real, quais providências estavam sendo tomadas, com números, ações. Não podia dar certo.
Uma equipe imperfeita, que cometeu erros graves, como o de subestimar a urgência dos testes, mas que pelo menos nos transmitia empatia e um razoável grau de confiança.
Agora temos tudo ao contrário. O sujeito que assumiu o Ministério não consegue dizer o que vai fazer. Pode dizer que vai mandar 32 respiradores para Manaus, mas não contextualiza nada, não fala do conjunto de ações que tenham alguma coerência de conjunto.
O Brasil não é um só, diz ele. Não é, mas o homem repete isso todos os dias. Cidade e regiões têm demandas diferentes. Claro que têm. Temos um acaciano, teórico de obviedades, em um cenário de terror e urgência.
Teich está nos enrolando, enquanto aumenta a morte de pobres, porque Bolsonaro queria um enrolador. Eles não sabem o que fazer, porque não é para fazer nada. É uma inação deliberada. Até Trump se deu conta de que o Brasil está sem comando.
As esquerdas, que bateram muito em Mandetta por isso e por aquilo, terão muita saudade de Mandetta.
A morte não tem inimigos dentro do governo. Esse Nelson Teich não consegue administrar a própria cabeça, que balança sem parar, como se estivesse misturando algo que pudesse ajudá-lo a pensar.
Estamos a caminho de uma tragédia maior do que a imaginada e sabemos que não há quem possa nos salvar.