O cinegrafista Marcos Andrade, que filmou o tiroteio que matou um homem e interrompeu a campanha do ex-ministro da Infraestrutura e candidato ao governo de SP Tarcísio de Freitas (Republicanos), em uma favela de Paraisópolis, concedeu uma entrevista exclusiva ao Jornal da Cultura e contou mais detalhes sobre o incidente da manhã da última segunda-feira (17).
Antes da entrevista à Cultura, o repórter relatou que foi pressionado a excluir as imagens do tiroteio por um integrante da equipe do candidato que, mais tarde, foi identificado como um agente licenciado da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), reconhecido como Fabrício Cardoso de Paiva, assessor da campanha de Tarcísio.
“Você tem que apagar! Essa imagem que você filmou aqui também. Mostra o pessoal saindo, tem que apagar essa imagem. Não pode divulgar isso, não!”, disse o assessor para o jornalista.
Nesta terça-feira (25), o áudio em que o jornalista foi coagido a apagar as imagens foi divulgado. Depois do ocorrido, a Polícia Civil e o secretário de Segurança Pública de SP, no entanto, disseram que o ocorrido foi uma troca de tiros dentro da favela, a pelo menos 50 metros de onde estavam Tarcísio e sua equipe.
Por nota, a assessoria de Tarcísio afirmou que o segurança do candidato ordenou que o cinegrafista apagasse o vídeo no mesmo local onde estava localizada toda a imprensa. De acordo com o jornalista, não foi exatamente isso que aconteceu.
“Num determinado momento, alguém chega e fala assim: ‘vamos ali em cima’, que tem um…ele falou o nome, o Pavani, que o Pavani quer falar com você. Pensei comigo: ‘o que tá acontecendo?’. Na dúvida, eu peguei meu celular e comecei a gravar. Eram dois lances de escada e eu comecei a gravar a conversa. Foi uma conversa de pé de ouvido mesmo”, contou durante a entrevista.
Em uma nota oficial, a Abin explicou que há apenas um servidor licenciado acompanhando o candidato na campanha eleitoral. Porém, nas imagens feitas pelo repórter, é possível ver outro funcionário trabalhando no local.
“A agente federal, que até então se identificava como assessor do Tarcisio, que é o policial federal Campetti”, revelou.
O agente federal foi reconhecido como Danielo Cesar Campetti, policial federal que participou da segurança do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), enquanto candidato na campanha presidencial de 2018. O policial estava em Juiz de Fora, no interior de Minas Gerais (MG), no dia do episódio da facada no presidente, dada por Adélio Bispo dos Santos.
Durante o mandato de Bolsonaro, Campetti foi contratado pela Abin.
O repórter, após todo incidente do tiroteio, pediu demissão da Jovem Pan e admitiu que está com medo de sofrer represálias.
“Eu tenho medo não por mim, mas pela minha família. Minha esposa grávida, pouco menos de um mês, a nossa filha pode nascer. Estava fazendo meu trabalho. Nós, jornalistas, não temos arma. A nossa arma é o aparelho celular, uma câmera, um papel e uma caneta”, encerrou.
Veja o vídeo: