Finalmente escorraçado da vida pública, Eduardo Cunha, sozinho, ainda carrega um arsenal capaz de implodir o Congresso Nacional e o nosso já cambaleante sistema político.
Agora sem os benefícios do foro privilegiado, sem mais qualquer espaço para manobras, abandonado por seus antigos aliados, reduzido drasticamente o seu poder de coerção e chantagem e sob uma enxurrada de denúncias que envolvem não só ele, mas sua mulher e filha, não resta muita coisa ao baluarte da corrupção internacional senão utilizar-se do famigerado expediente da delação premiada.
Tendo comandado uma verdadeira quadrilha de bandidos mesmo antes de assumir a presidência da Câmara, é notório que Cunha tenha informações documentadas que podem puxar para o abismo que ele próprio criou, pelo menos duas centenas de políticos que até pouco tempo atrás se refestelavam ao seu lado.
É preciso lembrar que numa única delação o lobista Júlio Camargo confirmou, em depoimento ao STF, que Cunha o extorquia alegando possuir “uma bancada com mais de duzentos deputados para sustentar”. E essa é apenas uma das inúmeras delações em que é citado diretamente.
Chafurdado na lama do prostíbulo político brasileiro, não é à toa que mesmo afastado da presidência e de suas funções enquanto deputado, conseguia ser recebido, às escondidas, no palácio do Jaburu para tratar de seus assuntos com o então interino.
Michel Temer sabe do potencial explosivo de uma delação de Cunha para todos os partícipes do golpe, principalmente para a sua presidência a quem deve sobremaneira ao próprio Cunha, hoje um poço até aqui de mágoas.
E nisso Eduardo Cunha está certo. Temer de fato o abandonou à própria sorte. Trair realmente faz parte de sua natureza. A grande questão é o porquê. Temer sabe que, em princípio, basta Cunha abrir a boca para que todo o seu castelo de cartas venha abaixo.
Por outro lado, bobo um golpista não é.
Da mesma forma, Temer também sabe da ignomínia que é o próprio Eduardo Cunha. Um mitomaníaco inveterado que chegou a inventar, talvez, a maior cascata de todas já ditas naquele Parlamento: a de que não era dono dos milhões de dólares na Suíça, mas tão somente o seu “usufrutário”.
É possível que Temer e seus cupinchas apostem na gritante falta de credibilidade que uma possível delação de Cunha teria perante Moro e sua trupe. Pelo menos na parte que os tocassem. Afinal de contas, Moro é um juiz de um partido só.
Por via das dúvidas, não por acaso, está a pleno vapor a operação abafa que tenta por um fim definitivo ao circo de Curitiba, agora que sua única finalidade já foi cumprida: retirar Dilma do PT e criminalizar Lula e o PT.