O novo capítulo da tragicomédia do golpe é a ausência de uma deputada do baixo clero no processo do Conselho de Ética da Câmara que julga a cassação de Eduardo Cunha.
A baiana Tia Eron, do PRB, famosa pelo discurso a favor do impeachment (“Eu sou a voz da mulher negra e da mulher nordestina, eu sou a voz do presidente nacional Marcos Pereira” etc), simplesmente sumiu.
Depois de mais de quatro horas, faltando apenas oito líderes partidários, a votação foi adiada.
Eronildes Vasconcelos Carvalho tem o voto decisivo sobre o processo. Se ela optar pela decência, o placar aponta 10 a 10, com o voto de minerva do presidente do conselho, deputado José Carlos Araújo, que já sinalizou que quer ver Cunha pelas costas.
Mas, se há algo com que Tia Eron e seus amigos da tropa de choque de Cunha não se importam é com a decência.
Sua voz, como ela mesma admitiu, é a do presidente do partido, atual ministro do Desenvolvimento e bispo licenciado da Universal.
E com quem estava ele na noite de segunda? Com Michel Temer, num encontro marcado às pressas.
Alessandro Molon chamou atenção para a “coincidência”. “Fiquei muito preocupado com essa notícia da reunião do presidente interino Michel Temer com o presidente do PRB. Pode não ser nada, mas é muito ruim para um governo que abriga tantos aliados do deputado Eduardo Cunha uma reunião dessas”, disse.
O forfait de Tia Eron virou, inevitavelmente, piada. Parlamentares levantaram a suspeita de que ela havia sido abduzida.
Mas só a consciência e a vergonha foram raptadas. Quem votaria em seu lugar é Carlos Marun (PMDB-MS), pró-Eduardo Cunha. Marun já estava de prontidão.
De acordo com o Estadão, Tia Eron acompanhava a sessão pela TV de uma sala do PRB na Casa. Estava sozinha e comia frutas. Queria “evitar o assédio”, segundo interlocutores.
Depois do anúncio do adiamento da sessão, deu as caras para alegar que estava estudando o relatório. “Saiu hoje, você não viu? Você não acha justo?”, perguntou a repórteres.
Temer e Cunha dependem desse tipo de chantagista. O preço dela sobe de um dia para o outro. Quem paga, seja qual for o resultado, é você.