Tenho nojo das autoridades que perseguem Lula. Por Afrânio Silva Jardim

Atualizado em 5 de fevereiro de 2019 às 9:52
Vavá e Lula

PUBLICADO ORIGINALMENTE NO EMPÓRIO DO DIREITO

Eu jamais esquecerem e perdoarei todos estes magistrados e membros do Ministério Público que causaram tanta angústia ao maior líder popular de toda a nossa história. Em me negaria até mesmo a cumprimenta-los.

Chico Buarque fala em covardia e cinismo. Outras expressões fortes foram usadas por personalidades relevantes neste cenário lamentável.

O fato é que grande parte do nosso Poder Judiciário e do Ministério Público não tem mais escrúpulo, quando se trata de reconhecer direitos ao ex-presidente Lula.

Na verdade, Lula é o inimigo do nosso sistema de justiça criminal a ser batido a todo tempo, quantas vezes for necessário. É uma questão política. É uma questão ideológica. Repudio estas pessoas. Tenho nojo destas pessoas.

Só quem perdeu um parente próximo pode aquilatar a importância de estar presente em seu velório e enterro. Jamais perdoaria quem me impedisse de me despedir, pela última vez, de minha falecida filha. A minha revolta e ódio seriam eternos. Por isso, imagino a indignação do ex-presidente Lula.

A parcialidade de nosso sistema de justiça em relação ao ex-presidente Lula não tem precedentes na história de nosso país. Eles já não têm mais como esconder a sua parcialidade. É tudo muito vergonhoso mesmo … Chega mesmo a nos deixar meio desesperados. Como aceitar toda esta patifaria ???

Eu já desisti. Já não mais acredito na “Justiça” de meu país. Falta honestidade intelectual a muitos de nossos operadores do Direito. Imparcialidade, há muito já não mais existe. O caminho do ex-presidente Lula está todo “minado” e ele não mais é tratado como um sujeito de direitos.

Algum dia, estas pessoas nefastas terão de “pagar” por tanto sofrimento que causam ao maior líder popular de toda a história de nosso país. Algum dia, estas pessoas insensíveis serão castigadas por tanta tristeza que causaram ao nosso povo.

Para os adversários ideológicos, estão “fechando” os meios institucionais para tutela de seus Direitos. O nosso sistema de justiça nos trata como inimigos, sem qualquer constrangimento ou pudor. Isto é muito perigoso. Não subestimem o poder de reação do nosso povo. Tudo há de ter limites …

Peço licença aos caros leitores para encerrar este meu “desabafo”, com o breve e emocionante texto de ALCEU CASTILHO, que mostra o quanto está sendo melancólica o nosso atual Poder Judiciário, sempre com apoio da grande imprensa empresarial. Este é o texto:

“Havia uma única porta para Lula sair temporariamente da prisão. E ela era terrível: a porta só seria aberta se um parente próximo morresse ou tivesse doença grave.

Quem disse isso foi o juiz, em dezembro, que vetou a ida do ex-presidente ao velório do amigo e advogado Sigmaringa Seixas. Na linha: “Vejam só como somos razoáveis”.

O irmão Vavá morreu. E a porta foi fechada.

A porta existe apenas para você, ela é sua – mas você não pode passar por ela.

Isso significa… Kafka. Exatamente Kafka. (Em outros terrenos o Brasil tem sido mais direto. Nesse caso não há dúvida: Kafka).

E no terreno de Kafka faz-se de conta que há uma lógica – enquanto se arrebenta a lógica ou se constrói uma lógica paralela. (Em meio a camadas de opressão).

Combater esse Estado a partir dessa lógica desvirtuada implica dar murro em ponta de faca. Implica não implicar: não há consequências, não há saídas possíveis – mesmo que elas tenham sido prometidas ou anunciadas.

Por isso, aos escolhidos para não serem escolhidos, aquela sensação de angústia asfixiante, de desespero – pois se toma como recurso válido algo que já transbordou os limites da razão.

O enterro de Vavá é o enterro daquele país de outrora, onde os agentes do direito invocavam alguma razoabilidade por trás de tudo – aquele mundo idealista do direito formal, da crença coletiva nas “letras da lei”, numa legalidade que pairasse acima do poder e das ideologias.

Agora não: fecha-se o caixão sem que o parente direto possa ver. Fecha-se sem fechar totalmente. “O caixão está fechado e ele pertence a vocês, mas vocês não podem vê-lo”.

O processo surreal, a metamorfose súbita de um país. A justiça como um castelo de areia. “O Velório”, por Franz Kafka.”