Teté

Atualizado em 11 de março de 2011 às 15:48
Teté, grávida, à esquerda de papai e ao lado das irmãs Lili e Zê

A mensagem veio em inglês, escrita por Cindy Soares.

Não entendi!  Minha querida professora Teté está morta? Fui um dos jovens estudantes do Ceneart nos anos 70 e ele foi uma grande influência em nossa vida. Você tem sorte de de ter tido uma pessoa como ela na sua vida.

Cindy morou no Brasil na adolescência, e foi aluna de minha tia Teté no Ceneart, uma escola de Osasco onde meus pais também deram aula.

Não.

Tia Teté está viva, e bem.

Eu tinha escrito um texto sobre outra tia, Tetê, ela sim, viva, vivíssima hoje, mas no meu coração. Foi este que Cindy leu, e que a assustou.

Tia Teté é a irmã caçula de meu pai.

Cindy, que pelo sobrenome imagino ter se casado com um brasileiro, tem toda a razão. É uma sorte ter Teté por perto.

Ela foi uma tia simplesmente maravilhosa.  Jovem, bonita, inteligente. Participante. Alguns de meus melhores programas da infância estão ligados a tia Teté. Ela nos levava para ver jogos de basquete no Ginásio do Ibirapuera. Era a época dourada do basquete brasileiro. Tínhamos grandes times, Corinthians, Sírio, Palmeiras. E grandes jogadores. Vlamir, Amauri, Rosa Branca, Mosquito, Edson, Succar.  Lembro também de Emil Rached, o gigante desengonçado.

Que jogos, sempre noturnos, sempre lotados. Tão eletrizantes, tão bons, na minha lembrança, quanto os jogos da NBA de hoje.

Depois deles, Teté nos levava para alguma lanchonete. Um cheeseburguer e um milkshake de chocolate.

Que poderia haver de melhor que a combinação basquete-lanchonete?

Teté nos deu também , aos sobrinhos, um presente inesquecível. Numa viagem que fez nos anos 60 à Europa, trouxe uma espécie de blusa de moletom na qual estava escrito: Britain is great. Era uma blusa branca, e enfeitada com a bandeira britânica.

Outro dia conversei com um irmão e um primo sobre o presente. Eles não tinham esquecido, como eu. Uma simples blusa nos fascinou uma vida inteira. Talvez pelas palavras em inglês. Mas mais que tudo por ter sido dada com imenso amor.

Britain is great.

Teté continuou sempre perto, interessada em nós. A primeira criança de que fui padrinho foi Pedro, seu segundo filho. Lembro que discuti com o padre no curso de padrinhos. Eu tinha 21 anos, e achava que tinha que dizer umas verdades ao padre sobre a igreja. Ele não as aceitou. Fui expulso do curso, se não me engano. Mas consegui ser padrinho de um garoto que se converteria num amigo e num companheiro imbatível de duplas de tênis com sua direita treinada (mais ou menos) e errática (muito).

Sobre o talento de Teté como educadora são provas meu afilhado Pedro e sua irmã, Ana Maria. São hoje dois jovens de caráter elevado e inteligência fina. Simpáticos, gentis, simples, prestativos, bem-formados, qualidades que todos os pais desejam ver nos seus filhos. Teté e seu marido, Gilberto Mottin, uma das pessoas mais inteligentes que conheci, educaram com grandes resultados seus filhos. Gilberto, quando fiquei preso por alguns meses a uma cama aos 15 anos, me deu uma presente tão marcante quanto a blusa britânica: revistas com histórias de Tintin e Asterix. Não sei quantas vezes li, reli e tresli aquelas histórias.

Teté já há alguns anos tem enfrentado com a coragem possível a viuvez. Infelizmente o joelho a tirou das quadras de tênis, onde ela é uma duplista com toques hábeis, muita noção de espaço e um saque que parece fácil de atacar mas vem cheio de efeito.

Cindy tem razão.

É uma sorte ter Teté por perto.