Uma declaração do apresentador Tiago Leifert, do Big Brother Brasil, causou estardalhaço na internet: ao anunciar a eliminação de uma das participantes, ele disse que “representatividade não leva a nada”, e que a militância por parte dos participantes do programa irrita aos telespectadores.
Irritante é um apresentador que defende um estuprador em rede nacional, como fez Tiago em 2016, quando o participante Laércio – preso por estupro de vulnerável – confessou que oferecia bebidas alcoólicas a menores para “facilitar o sexo.”
Irritante é estupro televisionado, como aconteceu com Monique, estuprada enquanto dormia na edição de 2014.
A declaração de Tiago, entretanto, embora polêmica, deve ser contextualizada: a participante eliminada – com um dos maiores níveis de rejeição da história do programa – nitidamente usava de sua condição de minoria para autopromoção barata.
Surfando na onda da geração da militância e da representatividade, Nayara achou que seria moleza conquistar os telespectadores com a velha ladainha de “representar as mulheres negras” e “amar o nordeste”.
Diz o novo ditado: O povo não é bobo.
Os que se prestam a assistirem ao lixo televisivo chamado Big Brother Brasil sacaram, de pronto, que Nayara faz a linha militante por confetes. E ela não está sozinha.
Tem companheiras nas universidades, nas comunidades e especialmente na internet: pessoas que esquecem do caráter coletivista da militância e se valem de sua qualidade de minoria para serem likadas, amadas, respeitadas, ouvidas.
A militância foi completamente desvirtuada por esta geração: transformou-se no muro das lamentações pós-moderno, onde ídolos e inimigos são livremente eleitos, e discursos prontos são freneticamente reproduzidos por quem busca aprovação alheia.
Toda universidade, por exemplo, tem sua própria miss-militância: aquela que tem milhares de seguidores na internet, muda a cor do cabelo toda semana e vive cercada de lambe-botas porque é mulher preta empoderada e não pode ser contrariada – e ai de quem contrarie: linchamento social na certa.
A busca por representatividade criou semideuses que dizem e fazem o que querem sob o pretexto de representarem um grupo desprivilegiado.
Artistas ruins não podem ser contestados porque representam uma minoria – e qualquer manifestação que destoe do “lacrou!” é tida como preconceito.
Militantes que não trabalham em prol da coletividade são endeusados e endossados por quem não quer estar por fora da panelinha. Até participantes de reality shows globais querem sua fatia de lacração – de preferência, em dinheiro.
Representatividade importa, mas valer-se dela para ganhar confetes é mais do que irritante: é repugnante.