Em entrevista à Veja, o ator Tonico Pereira, que nunca escondeu sua posição política à esquerda e chegou a ser agredido nas redes sociais por emitir sua opinião no Domingão do Faustão – um pastor, diz, até o ameaçou de morte pela internet – às vésperas do impeachment de Dilma Rousseff, Tonico Pereira traça no palco um paralelo entre a condenação do mentor de Platão, sentenciado à morte por incitar a juventude ateniense à filosofia e ao questionamento dos deuses, e a punição do ex-presidente, preso por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá e réu em outros seis processos, dois em Curitiba e quatro na Justiça Federal de Brasília.
“As duas foram prisões políticas, porque calaram ideias, assim como calaram Marielle Franco”, diz, antes de se pôr “à vontade” para tirar fotos. Por “à vontade” leia-se apenas de cueca – uma samba-canção vermelha como toda peça íntima que, por superstição, ele veste para subir ao palco, onde atua sem laboratório e com ponto eletrônico. “A menina do ponto fala o texto para mim. De preferência, eu não decoro, nem na televisão. O importante é entender o texto, quem decora corre o risco de parecer um papagaio. (A novela) A Regra do Jogo eu fiz assim”, conta o ator.
“Sobre a cueca vermelha, eu tenho umas vinte”, retoma. Mas, se Tonico Pereira está convicto da sua posição, a classe artística está “dividida” como nunca viu.
Funcionário da Rede Globo, Tonico está pré-reservado para uma produção em 2019, mas ainda não sabe qual. E, se sair da emissora, não descarta atuar em outra, como a Record, conhecida por suas tramas bíblicas. “Meu amor, se meus filhos estiverem passando fome, eu sou capaz de matar”, ironiza o ator, quatro filhos de dois casamentos.