No Sul, gremistas e colorados estavam juntos na brigada antifascismo que obrigou bolsonaristas a recuar no protesto insano destes pela morte e a favor do coronavírus.
Em São Paulo, corintianos já tinham dado o exemplo com a ida à Paulista no dia e horário em que os bolsonaristas realizariam ato a favor de Bolsonaro.
Agora, pode surgir uma ação conjunta destes com torcedores do clube rival, o Palmeiras, torcedores que também são comprometidos com a defesa da democracia.
O que motivou a ideia de união de forças foi a foto provocativa publicada por um cidadão que se diz palmeirense e usou camisetas do clube para ameaçar os corintianos.
Alertado de que o Ministério Público poderia atuar e, inclusive, pedir sua prisão preventiva, o rapaz recuou e veio à torna sua ligação com um vereador de São Paulo que chegou à chefia de gabinete da presidência da Câmara na gestão de Antônio Carlos Rodrigues, o Carlinhos, que sempre exibiu em suas campanhas fotos com dirigentes da Mancha Verde, a maior torcida do Palmeiras.
Carlinhos, é preciso registrar, é um dos líderes do PR, o Partido de Valdemar da Costa Neto, que se transformou em um pilar do governo Bolsonaro, ao ceder parlamentares numa negociação não republicana com o chefe do Poder Executivo.
Sob o risco de prisão e alertado de que não poderia usar o nome da Mancha Verde nem do Palmeiras, o palmeirense bolsonarista recuou e publicou um novo comunicado, para dizer que não queria briga com corintianos e que não é extremista.
Não?
Em sua postagem ameaçadora, o cidadão usou o slogan dos integralistas como Eduardo Fauzi, aquele que praticou atentado contra o Porta dos Fundos e fugiu para a Rússia: Deus, Pátria e Família.
“Reitero a negativa da veracidade das informações, apenas nos manifestamos de forma democrática e amigável, discordando das medidas vigentes e sem cunho de violência, tampouco vinculada à qualquer torcida organizada”, escreveu.
Não pode ser considerada pacífica uma manifestação em que o autor diz: “Odiamos gamba, estamos esperando vocês”.
Antes disso, o Palmeiras Antifascista reagiu com um manifesto que repercutiu nas redes sociais:
ALERTA, ALERTA, ALERTA ANTIFASCISTA
Sabemos que na nossa torcida existem nazistas, fascistas e simpatizantes de regimes totalitários. Mesmo sabendo das nossas origens proletárias, essas pessoas se sentem à vontade para se expressar livremente com a camisa do nosso time. Foi por conta disso que esse coletivo foi criado, nunca negamos que os nossos inimigos também são internos. Hoje vieram à tona nas redes mais fotos desses nazis e fachos em manifestação da extrema direita contra o isolamento.
Não é só defender o atual governo, que já se mostrou contra as torcidas, intolerante, chamou os refugiados de escória do mundo, é racista, odeia mulheres e LGBTs: colocam a saúde dos outros em risco pra defender pilantra, sendo que os que mais estão sendo afetados por esse vírus são os mais pobres, a classe operária. Justamente os que constituem a maioria das torcidas!
Sabemos que seus eleitores estão em todas as torcidas. A pergunta é: a MV compactua com isso? Acha normal que esses vermes saiam por aí com os panos do clube defendendo nazi e colocando a vida das pessoas em risco? Sabemos que muita gente dessa foto é ligada à MV, aí fica a pergunta: Quando a MV coloca em seu estatuto que não discute política, o que estão fazendo posando pra foto, em ato político, defendendo um governo genocida?
Mesmo não acreditando na política tradicional, o que faz o assessor de um parlamentar nessa foto? O que ele acha que representa, a quem ele está à serviço?
Para que saiam na rua pouco se importando com a classe trabalhadora e defendendo a burguesia?
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MV é a abreviação de Mancha Verde.
É bom que as torcidas tenham acordado e não permitam que floresça em seu seio a semente do fascismo. Futebol é a expressão de um movimento democrático, em que os 11 em campo são representantes legítimos daqueles que estão na arquibancada.
A origem do Corinthians é o futebol de várzea, o que explica sua imensa torcida nas classes populares. O Palmeiras teve origem entre os imigrantes que trabalhavam nas indústrias de São Paulo.
Em nome destes, os torcedores jamais devem ceder à tentação de apoiar um governo antidemocrático como o que temos hoje no Brasil.
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Atualização: A liderança do Coletivo Democracia Corintiana entrou em contato para dizer que a organização do ato na Paulista em oposição aos fascistas não foi da entidade. E de fato não foi. Estavam na Paulista integrantes de diferentes grupos de corintianos, incluindo expoentes da Gaviões da Fiel. O Democracia Corintiana já realizou pelo menos uma ação conjunta com integrantes da torcida rival, o Porcomuna, por ocasião de um ato pela liberdade de Lula, na Paulista. Houve até uma partida de futebol no asfalto.