De 2012 e 2023, a taxa de sindicalização dos trabalhadores brasileiros diminuiu pela metade ao cair de 16,1% para 8,4% dos ocupados. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC) do IBGE.
Essa queda significativa é atribuída a diversos fatores, incluindo a Reforma Trabalhista de 2017, que introduziu maior flexibilidade nos modelos de trabalho e eliminou a obrigatoriedade da contribuição sindical. Além disso, o aumento do emprego formal, apesar de positivo, não foi acompanhado por um crescimento proporcional na sindicalização.
A análise mostra um aumento na qualificação dos trabalhadores brasileiros, com 23,1% possuindo ensino superior completo em 2023, comparado a 14,1% em 2012. Paralelamente, a parcela de trabalhadores sem instrução ou com ensino fundamental incompleto reduziu de 32,6% para 20,1% no mesmo período. Contudo, os jovens enfrentam uma sindicalização ainda mais baixa, especialmente aqueles entre 18 e 24 anos, onde a taxa de filiação sindical caiu 73,4%.
Rodolpho Tobler, pesquisador do FGV/Ibre, explica ao jornal O Globo que setores antes fortemente sindicalizados, como a indústria, viram uma redução significativa na representação sindical, de 21,3% em 2012 para 10,3% em 2023. Essa mudança reflete não apenas as transformações econômicas, mas também a entrada de jovens em empregos mais informais e flexíveis, muitas vezes sem vínculos sindicais estruturados.
Marcelo Neri, diretor da FGV Social, aponta que a tendência de menor sindicalização é global e está associada à transição para um novo paradigma de trabalho menos estruturado e mais baseado em plataformas digitais. Esse novo cenário, impulsionado pela uberização e pela pandemia, destaca a preferência por modelos de trabalho remoto e flexível, onde direitos trabalhistas podem ser menos garantidos.
A pesquisa também destaca um aumento no trabalho remoto, adotado por 8,5% dos ocupados em 2023, comparado a 5,8% em 2019. Neri observa que, embora o trabalho remoto ofereça benefícios como redução de custos operacionais para as empresas, ele também pode implicar em uma menor proteção trabalhista para os indivíduos.
A flexibilidade no local de trabalho, percebida como uma vantagem em termos de produtividade, pode, paradoxalmente, resultar em maior vulnerabilidade para os trabalhadores.