Cinco pessoas foram presas nesta manhã por suspeita de fraude no laudo que atestou a segurança da barragem 1 da Mina do Feijão, da Vale.
Nenhuma delas é alto funcionário ou pertence à diretoria da empresa.
São eles André Yassuda e Makoto Namba, engenheiros da empresa TÜV SÜD, que moram em São Paulo; César Augusto Pauluni Grandchamp, Ricardo de Oliveira e Rodrigo Artur Gomes de Melo, funcionários da Vale.
Com a prisão, repete-se a tradição brasileira de encarcerar bagrinhos e poupar tubarões. É como a polícia prender o gerente da boca e não incomodar o chefe do tráfico ou o financiador do tráfico.
O chefe na Vale é Fábio Schvartsman, na presidência da empresa desde março de 2017, e ele foi para lá depois de um processo de seleção que sofreu interferência política.
E seu padrinho teria sido o notório Aécio Neves.
É o próprio quem contou, em conversa gravada por Joesley Batista, dono da JBS, interessado em colocar alguém de sua confiança na empresa.
“Deixa eu te falar olho no olho, o nosso negócio aqui é olho no olho porque procurei você na sua casa, me ajudou pra (palavrão). Vou falar pra você, eu não falei pra ninguém: eu nomeei o presidente da Vale”, disse.
Poderia ser só bravata, como disseram os amigos de Schvartsman na imprensa quando a conversa se tornou pública, mas os fatos confirmam que, no mínimo, Aécio teve informação privilegiada.
Aécio disse quem nem Temer, na época titular do Planalto, sabia o nome do escolhido. Mas ele sabia, e disse que o anúncio do novo presidente seria feito na segunda-feira seguinte, 27 de março.
Batata.
Na data anunciada por Aécio, Fábio Schvartsman foi apresentado como novo presidente da Vale.
Pela conversa entre Aécio e Joesley, fica claro que houve fraude no processo de escolha do presidente da empresa, feito por head hunters.
“O que nós fizemos, eu consegui um negócio raro pra (palavrão). Botei o cara dentro do head hunter”, afirmou.
Joesley concorda e Aécio descreve: “Fiz o cara pesquisar 20 pessoas. Ele tem aqui. Então, ele vai ser anunciado segunda-feira”.
Schvartsman fez sua primeira reunião com o Conselho de Administração da Vale no dia 24 de maio de 2017, depois que o esquema relatado por Aécio tinha se tornado público.
Ele não tocou no assunto.
O que disse, no entanto, é a prova de que falhou.
O presidente da Vale anunciou duas prioridades. Uma seria transformar a empresa em uma “public company”.
A outra prioridade seria garantir a integridade das barragens, justamente o que não houve, como mostra a tragédia de Brumadinho.
Ao chamar para si a responsabilidade pela “integridade das barragens”, a ponto de considerá-la prioridade da gestão, é Schvartsman quem deve responder por supostas fraudes.
Não são apenas os engenheiro ou funcionários de baixo ou médio escalão da companhia.
Naturalmente, ninguém espera o rompimento de uma barragem, principalmente naquele caso, em que o refeitório da empresa ficava debaixo dela.
Mas o que Schvartsman não disse em sua primeira reunião do Conselho de Administração da Vale é que a prioridade, em qualquer empresa privada, é a maximização dos lucros.
E a receita para isso é antiga: aumentar a receita e reduzir as despesas.
Pelas informações disponíveis, é possível concluir que nada de novo foi feito na gestão de Schvartsman para garantir a integridade das barragens.
Isso implica gastos e, nas corporações supostamente modernas, com ações negociadas em Bolsa, esta é uma decisão difícil de tomar.
A tragédia em Brumadinho, como disse o professor da Universidade de Juiz de Fora Bruno Milanez, doutor em política ambiental, era só uma questão de tempo.
Uma tragédia anunciada, que o espetáculo da prisão de bagrinhos tenta encobrir.