O presidente da Petrobras, Jean Paul-Prates, concedeu uma coletiva de imprensa para jornalistas da mídia progressista na sede da empresa no Rio de Janeiro. O DCM participou da entrevista. Ele falou por mais de duas horas.
Foi cauteloso ao comentar o conflito armado envolvendo Hamas, palestinos e Israel na Faixa de Gaza, afirmando que os preços dos combustíveis estão suscetíveis aos eventos globais.
Com formação de advogado e de ambientalista, o presidente defendeu a exploração de petróleo na Foz do Amazonas e acredita que a crise entre a empresa e o Ibama foi “fabricada”.
Ele afirma que mantém diálogo quase diário com o Ibama e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Não deu detalhes, mas diz que a Petrobras vai tentar reverter algumas vendas de refinarias. Jean Paul-Prates também acredita em uma “transição energética pragmática”, pensando em poluir menos o meio ambiente, mas sem fazer uma gestão irresponsável da empresa.
Críticas a Pedro Parente e Temer
“A opção atual não é proteger a PPI, os preços do mercado, mas conviver, não repassar o preço em determinados aspectos. Petrobras tem autonomia para dar os seus preços. Não vamos ao governo para decidir isso, embora a gente esteja sob um guarda-chuva de um plano. Eu estou aqui na condição de um preposto do presidente Lula, por causa da confiança que ele tem”, explica.
“Adoraria que o mundo fosse socialista, mas temos que conviver com o PPI. Essa paridade de preços foi um tiro no pé da forma que foi feita pelo governo Michel Temer. Sob Pedro Parente, a Petrobras teve mais de 100 reajustes de preço. O que provocou a greve dos caminhoneiros. Não podemos ser radicais nesse campo”.
E comentou sobre a decisão do presidente em conjunto com sua administração: “Acredito que o presidente Lula foi genial nessa discussão. Ao discutir a mudança na política de preços, ele disse que iríamos abrasileirar os preços. Lula resumiu”.
Diálogo com Marina Silva
O presidente da Petrobras desmente uma suposta crise com a pasta do Meio Ambiente. “Não existe conflito. Isso é uma coisa totalmente fabricada. Conversamos com a ministra Marina e com o Ibama e tem licenças sendo emitidas todos os dias aqui, aos borbotões. Operações pequenas e grandes. A relação do Ibama com a Petrobras é uma constante. Todos os dias têm diálogo. Não há razão para estar em pé de guerra”.
“Continuamos no processo pela exploração da Foz do Amazonas. Existem 16 pedidos de licença ambiental para toda a Margem Equatorial, de Fernando de Noronha até o Amapá. Pedimos isso no ano passado e isso não tem a ver com transição de governo. Queríamos licenciar e o Ibama começou a analisar. Fizemos avaliações inclusive com drones. Quem se interessar, nós temos as imagens disso. Queremos mostrar isso”.
“Porque queremos provar, não só para o Ibama, que a Petrobras é a empresa mais qualificada para fazer as atividades na Foz do Amazonas, na bacia geológica do Amapá em águas profundas. É uma perfuração importante e há diversas outras perfurações em andamento. No mangue, próximo da foz, há diversos poços perfurados. Não encontraram petróleo. Em águas profundas há um potencial muito importante. Mas precisamos saber se há óleo. Daí será uma decisão do Estado brasileiro se ele quer ou não produzir. Só que temos que fazer a nossa obrigação e estamos no processo de licenciamento”.
“Não houve um não rotundo, como dizia Brizola, do Ibama. Houve novas colocações e exigências que eram compreensíveis com a ministra Marina Silva. Ela assumiu o ministério do Meio Ambiente com o Ibama completamente sucateado e distorcido. Nós estamos aguardando as mudanças e as novas avaliações dos novos técnicos que têm o direito de colocar duas novas exigências de licenciamento. Por isso esse processo está correndo dessa forma”.
“Eu adoraria que amanhã saíssemos do petróleo como fonte energética e falei isso para a ministra. Sou ambientalista e tenho formação nessa área. Mas seria uma decisão absolutamente temerária. É melhor que a Petrobras faça a exploração da foz? Parece que sim, senão outras empresas farão isso. É melhor que a Petrobras faça a exploração do petróleo até quando isso for necessário”, completa.
Visão da Petrobras sobre energias renováveis
Em diferentes momentos da coletiva, Prates deixou claro que o momento é final do petróleo como principal matriz energética. No entanto, ele não acredita numa transição abrupta. Para ele, a transformação dessa energia precisa ser “pragmática”.
“Estamos pensando de maneira pragmática sobre transição energética. Somos a maior empresa offshore, com plataformas no mar. Qual tipo de energia podemos fazer com alto grau tecnológico? Energia offshore eólica. Tive o prazer de apresentar o Projeto de Lei que regulamenta energia offshore no Brasil. Com pagamento de bônus aos estados. Projeto está no Senado e o senador Portinho relatou de maneira muito boa, mesmo com nossas divergências. A votação foi unânime”.
“Fiz o marco regulatório do hidrogênio. Da captura do carbono. Todos esses três projetos de lei que eu considero um pacote verde e estão tramitando”.
“Na Petrobras, uma vez estando na presidência, estou tentando fazer a mesma coisa. Por um lado, exploração e produção de petróleo, por outro, energia eólica offshore. Gás natural e hidrogênio, mesma infraestrutura e órgão regulador. Refino de petróleo e de óleo vegetal. Estamos indo por caminhos que há um paralelismo tecnológico. O que permite que as pessoas estejam habilitadas para lidar com novas energias. Depois a gente vai procurar novos horizontes”.
“Podemos pesquisar armazenamento de baterias, podemos ir nesses campos, mas isso é mais adiante. Nossas primeiras áreas de transição energética serão mais paralelas ao que fazemos ainda hoje”.
Entreguismo que ocorreu na Petrobras e necessidade de inovação
O presidente da Petrobras falou também sobre a venda da Refinaria Landulpho Alves, na Bahia, ao Mubadala Capital, um fundo dos Emirados Árabes Unidos, que voltou ao noticiário com o escândalo das joias de Bolsonaro. Prates também abordou as demais vendas dentro da empresa.
“Sobre a refinaria Landulpho Alves, RLAM, não podemos falar muitos detalhes. Temos que ver todas essas privatizações que foram feitas de qualquer jeito. Elas foram feitas com o intuito de vender mesmo. A ordem era: venda, dê um jeito para vender. Sucesso aqui era comemorado pela venda de ativos. Sabemos porque temos acesso aos registros”.
“Acabou isso. Vender a troco de quê? De qual ordem? Por que a RLAM foi vendida dessa forma? Porque houve uma suposta denúncia de dumping, denúncia microscópica de um navio que ficou mais dias encostado do que deveria. E o preço caiu e ocorreu uma acusação de monopólio no refino. Isso está na Constituição, mas eles se referiam a uma acusação de que ela fazia o preço”.
“Isso foi totalmente falso. Para definir isso, você precisa saber qual monopólio e qual mercado. Não tem monopólio do refino naquela forma. Numa canetada, qualquer pessoa aqui, com a devida estrutura, pode ser um importador de combustível. A Petrobras então, na verdade, está concorrendo com todas as refinarias do mundo”.
“Se a Petrobras consegue um preço melhor porque tem uma refinaria aqui, o mérito é dela! O que acontecia com o PPI [preços de Temer e Pedro Parente] é que você impunha o preço do pior importador. Era ele que você premiava, e não aquele que era eficiente. Até quando você pensa do ponto de vista do mercado, é totalmente contraditório o que foi feito nesse período”.
“Ao ser autuada nessa situação, a Petrobras colocou refinarias à venda. Sacrificou oito refinarias. Eu disse no Senado na época que não iria votar essa questão. Temos hoje uma relação institucional com o Cade e tentamos desfazer esse erro”.
“Prefiro analisar por que vendeu a refinaria, como vendeu e o que podemos fazer para desfazer. Se não for todas, pelo menos aquelas que fazem a diferença. Lembrando que as refinarias brasileiras foram construídas com o intuito de cooperação, não competição. Isso é completamente falso considerando uma refinaria em Canoas (RS) e outra em Mossoró (RN). As refinarias têm áreas de atuação onde ela é o melhor preço para determinado tipo de consumidor. O outro competidor entra para complementar e o mix disso dá o melhor preço”.
“Se houver uma acusação de monopólio ou vantagem econômica, tem um processo. Não houve isso no Cade. A Petrobras na ocasião se voluntariou”.
Jean Paul-Prates também se queixou que os mais jovens não conhecem a história de 70 anos da Petrobras e afirmou que a empresa deve retomar o apoio a eventos de tecnologia e inovação para se aproximar de uma nova geração.
“Vamos retomar simuladores, games e aplicativos corporativos para a Petrobras porque os mais jovens sequer compreendem o que é a Petrobras hoje. A importância dela. Estaremos presentes em eventos como a Campus Party e feiras desse segmento”.
“Estive em uma dessas feiras no Rio Grande do Norte e eu não entendi nada. Deve ser a mesma sensação que os mais novos têm quando falamos em plataformas de petróleo. Precisamos aproximar pontos que estão distantes”.
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