Só agora vi Argentina, 1985, o elogiado filme sobre o julgamento dos ditadores. Um bom filme de tribunal, com excelentes atuações, impactante na exibição do horror da ditadura e com uma veia cômica na dose certa.
E a alegria de ver o general Videla indo para a cadeia já vale o filme.
A redemocratização argentina deu centralidade ao tema dos crimes da ditadura. Levou os responsáveis aos tribunais. Ainda que as sentenças não tenham sido o que se esperava e que acertos posteriores tenham obstruído a justiça, muitos deles foram punidos. O significado político disso é enorme.
No Brasil, fizemos o contrário. Fingimos que nada tinha acontecido e nos curvamos a cada vez que os militares ladravam. Em pleno regime democrático, deixamos que as Forças Armadas permanecessem autoritárias, violentas e corruptas.
A impunidade cobrou seu preço, como estamos vendo.
Não dá para repetir o mesmo erro. Transigir com os crimes de Bolsonaro e de seus muitos cúmplices (vários deles militares) é manter nossa democracia sob permanente ameaça.
Não se trata de vingança. Trata-se de justiça.
E não se trata do passado, mas do futuro. Sem que a justiça seja feita, não conseguiremos construir o país com que sonhamos.