Transporte de pacientes de Manaus representa risco de mortes e contágio, diz médico. Por Afonso Bezerra

Atualizado em 16 de janeiro de 2021 às 12:48
Paciente chega ao Hospital 28 de agosto em Manaus (AM); avanço da covid na cidade leva sistema de saúde ao caos. – Michel Dantas/ AFP

Publicado originalmente no Brasil de Fato:

Por Afonso Bezerra

O médico epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz Amazonas, classifica a operação de transferência dos pacientes de Manaus para outros estados, uma das saídas encontradas diante da falta de oxigênio nas unidades de saúde, como arriscada. Ele sugere como solução mais eficiente a reabertura de hospitais de campanha e aquisição de novos cilindros de oxigênio com rapidez.

O estado do Amazonas vivenciou, na última quinta-feira (14), um colapso do sistema de saúde, com desabastecimento de cilindros de oxigênio e pacientes morrendo sem o atendimento. A crise ocorre no momento em que o estado atinge um novo recorde de internações por covid-19, transformando as unidades de saúde em “câmaras de asfixia”, como definiu o epidemiologista.

Jesem Orellana explica que há um perigo duplo nesta movimentação. O primeiro é o impacto no paciente. “Há riscos desse paciente morrer no percurso ou no próprio estado para onde está sendo levado. Além do elemento emocional dos familiares, tem um problema real para o governo do Amazonas, que é como lidar com estes óbitos em outros estados”.

Orenella também destaca que esta operação de transferências emergenciais pode criar uma imprecisão em relação aos dados da covid-19, atribuindo a outras regiões os casos oriundos de Manaus.

O especialista alerta também para o risco real de a nova variante do coronavírus, ainda restrita ao estado amazonense, se espalhar pelo pais e pondera o efeito psicológico nas pessoas internadas. “Pode haver um sentimento de desamparo, abandono, a pessoa ficar internada em outro estado sem seu familiares, sem apoio financeiro”, relata.

A solução proposta pelo epidemiologista é a ampliação dos leitos de UTI com a reabertura de hospitais de campanha e a criação de novas unidades. “Se eu fosse o ministro da Saúde, eu priorizaria a reinstalação dos hospitais de campanha, o fortalecimento da estrutura médica de Manaus, eu priorizaria a melhoria na resposta à pandemia em Manaus”, analisou o epidemiologista.

A Justiça Federal do Amazonas determinou que a União e o Governo do Estado do Amazonas têm 24h para apresentar um plano para resolver a falta de oxigênio nos hospitais de Manaus e determinou que o governo federal tem a responsabilidade da transferência imediata dos pacientes que estejam na iminência de morrer por causa do desabastecimento das unidades.

Na tarde desta sexta-feira, dois aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) desembarcaram em Manaus carregados de cilindros de oxigênio. Também com o apoio da FAB, foram transferidos 235 pacientes para o Piauí e outras capitais também aguardaram transferências, como São Luís, João Pessoa, Recife, Goiânia e Distrito Federal.