Há várias maneiras de contar como foi o ano. A imagem é a que causa maior impacto. Tem uma relação direta com as emoções, fala ao inconsciente e permite uma interpretação ampla, dependendo da formação social e cultural de cada um.
Separei aqui três fotos sobre o ano de 2018, absolutamente impactantes. Uma delas é de Francisco Proner Ramos, que retrata o momento seguinte ao do último discurso realizado por Lula antes de ser preso.
O ex-presidente é carregado para dentro do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
A outra é de Eduardo Matysiak e mostra Leonardo Boff na frente da Polícia Federal em Curitiba, impedido que ele foi de visitar Lula, o amigo preso.
A terceira imagem é a que mostra Jair Bolsonaro depois de levar a facada em Juiz de Fora.
Sei que cada um deve ter a sua relação de imagens que definem o ano.
Explico por que fiz as minhas escolhas: Lula e Bolsonaro são os maiores líderes do Brasil hoje, e só não foram para o confronto direto na eleição porque a justiça brasileira, contrariando resolução da ONU, impediu que houvesse a disputa eleitoral, saudável sob todos os aspectos.
Escrevi um artigo — antes da prisão de Lula –, em que relato que os dois únicos candidatos que empolgavam eram Lula e Bolsonaro, com uma diferença substancial: nas pesquisas, Lula tinha mais que o dobro das intenções de voto que o adversário.
De qualquer forma, só os dois eram capazes de levar multidões espontâneas às ruas.
Eram dois projetos de Brasil sendo apresentados. Um representava a civilização; o outro, a barbárie.
No encontro destes dois projetos, eu estava presente, como jornalista cobrindo a caravana de Lula pelo Sul.
Para mim, os tiros disparados contra um dos ônibus da caravana — por coincidência, naquele em que eu estava — mostram o projeto de um e o projeto de outro.
Interpreto a foto de Eduardo Matysiak como a síntese do povo brasileiro hoje — ou parcela expressiva do povo brasileiro –: está esperando ver o que acontece.
Alguns firmes na resistência democrática, caso de Boff, outros cheios de dúvida, e um certo temor.
Só os tolos comemoram.