POR ANDREI MEIRELES, jornalista e fundador do site Os Divergentes
Espera-se de quem esteja no topo que seja bem informado. Inquilinos de palácios cultivam a imagem de que sabem mais do que os outros. Quem enxerga pelos olhos do poder pode, sim, ter uma visão privilegiada ou se iludir com miragens. Cada um dos conselheiros mais influentes de Michel Temer, por mais erro que cometa, avalia-se como craque no jogo político. Quando o tropeço é muito evidente, a culpa é sempre do outro.
Nada mais dá certo no Palácio do Planalto. Foi um festival de trapalhadas durante a greve dos caminhoneiros. Perderam a mão até na capacidade de fritar aliados incômodos.
Depois de incensarem a gestão de Pedro Parente na Petrobras, ao serem atropelados pelos caminhoneiros, resolveram se livrar dele e de sua impopular política de reajustes de preços dos combustíveis. Mas estavam com medo da reação do mercado financeiro e de outros avalistas relevantes como a grande mídia. Acharam uma maneira esperta de faze-lo, no batido método de tirar a batata do fogo com a mão de outrem. De público, pareciam solidários a Parente, enquanto nos bastidores esquentavam o óleo estimulando e fazendo cobranças.
Ambas hipóteses subestimavam Parente, que conhece bem como as coisas funcionam em Brasília.Pedro Parente ainda resistia quando, na terça-feira (29), Moreira Franco e o próprio Michel Temer atiçaram o fogaréu. Ao tirarem o tapete de Pedro Parente, eles imaginavam dois cenários: 1) – Ele se submeteria à pressão e abriria mão do controle da política de preços da Petrobras — as fórmulas já haviam sido vazadas, como o tal “colchão” de Moreira Franco ou dividir a decisão sobre os reajustes com a Agência Nacional de Petróleo. Sabiam que Parente não aceitaria essa alternativa; 2) — Manter o fogo alto até que conseguissem, com o menor custo, trocá-lo por alguém mais afinado com um nova política para a Petrobras, era a alternativa mais viável.
Na manhã da sexta-feira, ele conseguiu apanhar os profissionais do MDB de calça curta. Quando Parente estava no Palácio do Planalto entregando o pedido de demissão “irrevogável e irretratável”, a Bolsa de Valores abriu com as ações da Petrobras em alta. Com a divulgação de sua saída, o mercado reagiu, as ações da Petrobras despencaram, e o governo, frágil, ficou ainda mais acuado. Resultado: Parente emplacou seu sucessor e obrigou o próprio Temer, ao anunciar a indicação de Ivan Monteiro, a se comprometer com a atual política de preço da Petrobras.
Para não pairar dúvida, a edição do Jornal Nacional estendeu um tapete vermelho para a despedida de Pedro Parente.