TSE centraliza decisões sobre fake news contra a urna na eleição municipal

Atualizado em 5 de janeiro de 2024 às 21:12
O presidente do TSE Alexandre de Moraes e a ministra Cármen Lúcia. Foto: Nelson Jr./SCO/STF

Por Leonardo Sakamoto

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) defende que o enfrentamento à desinformação sobre o processo eleitoral nas eleições municipais deste ano seja centralizado na corte. Ou seja, fake news sobre urnas eletrônicas, totalização de votos e manipulação de resultados serão analisadas diretamente por Brasília ao invés de serem tratadas pelos tribunais regionais.

O tema está nas minutas de resoluções da corte para as eleições de 2024, publicadas para consulta pública nesta quinta (4) e que contam com a relatoria da ministra Cármen Lúcia.

Os ataques às urnas eletrônicas e ao papel do TSE na totalização dos votos foram a tônica das eleições de 2022. Tanto que a primeira condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pela corte, tornando-o inelegível, ocorreu por causa de um ato de campanha realizado por ele no Palácio do Alvorada, no qual embaixadores estrangeiros foram chamados para ouvir mentiras sobre o sistema brasileiro de votação.

O tribunal tem competência para tratar das eleições presidenciais e de recursos de outras candidaturas que já passaram pelo juiz eleitoral e pelo tribunal regional. Caso a minuta seja transformada em resolução, o que é o mais provável, o TSE pode ser acionado imediatamente caso a primeira instância dê decisão contrária àquela que já tenha sido proferida pela corte sobre ataques aos sistema eleitoral.

“Imagine um vídeo circulando com falsa acusação de que ao digitar o número X, a urna registra voto no candidato do número Y. Esse vídeo é analisado em poder de polícia pelo TSE e tido por ilegal, determinando-se sua derrubada do perfil da pessoa A”, explica Fernando Neisser, professor de Direito Eleitoral da FGV-SP e doutor em Direito Penal pela USP.

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Urna eletrônica. Foto: reprodução

“Na semana seguinte, o mesmo vídeo está circulando no perfil da pessoa B e o tema é trazido, também em sede de poder de polícia, ao juiz eleitoral de determinada zona. O que a resolução diz é que esse juiz eleitoral está vinculado à decisão já proferida, sobre o mesmo vídeo, pelo TSE.”

A resolução provocou discussões entre especialistas em direito eleitoral, que questionaram se isso não significaria supressão de competência dos tribunais regionais e ampliação das atribuições do TSE.

“Nada pode ser mais equivocado, não há qualquer alteração de competência ou supressão das atribuições dos tribunais regionais”, afirma Neisser.

Segundo ele, o decisão do Supremo Tribunal Federal já apontou que o exercício do poder de polícia relativo à desinformação sobre o sistema eleitoral e de votação permanece com o TSE, ainda que em eleições municipais ou estaduais.

“É preciso entender que os ataques sistemáticos à democracia e à normalidade eleitoral não acabaram. Seguem no submundo das redes, muitas vezes disfarçados de críticas técnicas à atuação firme e legítima da Justiça Eleitoral”, avalia.

Disponíveis no portal do TSE, as minutas das resoluções serão submetidas a audiências públicas nos próximos dias 23, 24 e 25 de janeiro. Depois, suas versões finais serão votadas pelo plenário. Valerão para a eleição deste ano caso aprovadas até 5 de março.

Originalmente publicado no Uol

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