Por Fernando Brito
A decisão da diretoria e do Conselho de Administração da Petrobras de “antecipar” o pagamento de lucros e dividendos – num valor total de R$ 47 bilhões – que só deveriam ser pagos aos acionistas no ano que vem é um escândalo sem tamanho.
Porque isso significa que a empresa estatal fica completamente manietada para retomar os seus investimentos em produção, refino e outras atividades operacionais, que vão receber, no ano, apenas R$ 17 bilhões, menos de 10% do valor que será distribuído como lucro no ano fiscal de 2022, que soma R$ 180 bilhões.
Isto é quase 80% a mais que os já extraordinários lucros repartidos pela empresa, no ano passado, de R$ 101 bilhões. Ou mais, porque a empresa distribuiu este ano mais R$ 37 bilhões relativos às contas de 2021.
Segundo a Federação dos Petroleiros, a antecipação de dividendos decidida agora seria suficiente para comprar de volta as refinarias e concluir as obras da Abreu Lima, em Pernambuco, do Comperj, em Itaboraí(RJ), da Usina de Amônia de Três Lagos (MS) e reabrir a Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados, no Paraná.
Mas disso a turma de Guedes, posta no controle da empresa, não quer saber e, de olho no que os dividendos vão gerar para o caixa do Tesouro (cerca de 36% do total) libera uma apropriação de lucros que ignora completamente a capacidade da empresa de gerar atividade econômica no curto prazo.
Espera-se que esta monstruosidade seja bloqueada pela Justiça, diante da trágica lesão ao papel da empresa na economia brasileira, ainda mais no apagar das luzes de um governo derrotado.
A Petrobras não pode ser administrada como um botequim, onde o gerente, no final do dia, faz a “rapa” do caixa, distribui par os sócios e, ainda por cima, pega um papelucho e faz um “vale” para a féria de amanhã.