O fim de semana foi marcado por manifestações violentas realizadas pela ultradireita em protesto pela morte de Thomas, de 16 anos, assassinado em 19 de novembro em uma festa na região de Drôme, no sudeste da França. Os extremistas relacionam o crime à comunidade muçulmana, acusação que não é comprovada pela polícia. Nove jovens, incluindo três menores, foram indiciados.
Neste domingo (26), cerca de 40 manifestantes de ultradireita se reuniram no centro da cidade de Romans-sur-Isère e foram dispersados pela polícia, que prendeu pelo menos uma pessoa, segundo a prefeitura.
Na noite anterior, cerca de centenas de militantes de ultradireita de diferentes cidades do país já tinham marchado encapuzados pela localidade com o objetivo de provocar brigas com os jovens do bairro de La Monnaie, onde, segundo rumores, moram os envolvidos na briga que teve como consequência a morte de Thomas.
A polícia, que fez cerca de 20 prisões no sábado, conseguiu contê-los, mas os confrontos deixaram vários feridos, incluindo cinco agentes de segurança.
“Motivo fútil”
A investigação que levou a polícia a interrogar 104 testemunhas ainda não permitiu elucidar totalmente as circunstâncias da morte de Thomas, que provocou uma cascata de reações virulentas da extrema direita e da direita sobre o tema da insegurança e da imigração. Mas os primeiros elementos desenham o cenário de violência ocorrida por “motivo fútil” e não de ataque premeditado contra os convidados de uma festa por pertencerem a uma “suposta raça, etnia, nação ou religião específica”, segundo o procurador de Valência, que alerta contra “denúncias sem provas” e “interpretações precipitadas”.
Aparentemente, foi um comentário relacionado a “um corte de cabelo” que provocou uma discussão, quando o baile estava terminando e um grupo hostil acabava de chegar ao local em um ou dois carros.
Ouviram-se gritos e insultos, e nove testemunhas fizeram comentários hostis “aos brancos”, segundo a acusação. O grupo na origem dessas declarações acabou fugindo. Thomas, um estudante do ensino médio de 16 anos foi ferido por uma facada, e morreu a caminho do hospital. Outras oito pessoas ficaram feridas, três delas gravemente.
Tags islamofóbicas
“Parece que foi uma briga que evoluiu. As coisas foram crescendo de forma rápida e imprevista, desorganizadas e descoordenadas”, assegurou no sábado à noite Bilel Hakkar, advogado de um dos acusados. Outro advogado, Guillaume Fort, por sua vez, denunciou “inverdades apresentadas em fóruns políticos ou nas redes sociais”, numa mensagem à AFP.
Desde a tragédia, a ultradireita liderou uma campanha virulenta nas redes sociais, incluindo uma lista de nomes e fotos apresentadas como sendo dos agressores.
Na manhã de sábado, uma mesquita em Valence (sudeste) recebeu uma carta islamofóbica mencionando o drama em Drôme e foram descobertas pichações nas paredes da mesquita do município Cherbourg-en-Cotentin (noroeste).
Investigações
No sábado, dez suspeitos ligados ao caso, incluindo alguns do bairro de La Monnaie, foram apresentados aos dois juízes de instrução encarregados do caso, em Valence. Nove foram indiciados por vários motivos, incluindo assassinato, tentativa de homicídio ou violência intencional, segundo a promotoria.
Seis, incluindo dois menores, foram colocados em prisão preventiva e três sob supervisão judicial, disse o procurador Laurent de Caigny, que se recusou a fornecer quaisquer detalhes sobre as identidades e acusações contra cada um.
Publicado originalmente na RFI.