O grupo cômico Porta dos Fundos capta o espírito do tempo e explode na internet.
Onde foi parar o humor brasileiro? De qualidade, quero dizer. Iconoclasta, provocador, capaz de fazer pensar?
Da televisão desapareceu desde TV Pirata. O humor brasileiro televisivo oscila hoje entre a breguice irrelevante de Zorra Total e a sem-gracice estúpida e alienada de coisas como CQC e Pânico. A imagem sinistra do humor brasileiro hoje é Tas careca e de óculos escuros, como um Tonton Macoute do Haiti dos Duvaliers.
Mas – assim como acontece com o jornalismo mofado tradicional — algo de novo parece estar acontecendo na internet.
Um exemplo disso está no grupo Porta dos Fundos, que surgiu no YouTube. O Diário postou um vídeo do PF há dois dias, e ele acabou correndo posteriormente a internet. O nome é “Entrevista”.
É uma paródia ao jornalismo de hoje. Um repórter entrevista um autor, e vai manipulando as respostas impiedosa e comicamente.
Você ri e você chora porque é muito engraçado e também porque ali está a realidade jornalística brasileira, na essência.
Onde vai dar?
Se o grupo for comprado por uma grande emissora, adeus. Fazer humor político no Brasil de hoje, em que o chamado 1% seja ironizado, não é possível. Na Globo, um quadro como “Entrevista”, não seria exibido – o repórter ali parece pertencer ao Jornal Nacional.
A internet vai remunerar de alguma forma o grupo? Espero que sim. Audiência eles têm. Os quadros costumam ter mais de 1 milhão de exibições.
Se você pegar todos os vídeos dos canais da Veja e da Folha no YouTube e somá-los, das prédicas de Augusto Nunes e Reinaldo Azevedo às reportagens eletrônicas do matutino da Barão de Limeira, não vai chegar a uma fração da audiência de um só quadro do Porta dos Fundos.
Não é piada.
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