Uma crise sem fim: o Brasil aguentaria a queda de Bolsonaro? Por Ricardo Capelli

Atualizado em 16 de abril de 2019 às 18:30
Jair Bolsonaro. Foto: Evaristo Sa/AFP

POR RICARDO CAPELLI  

As últimas pesquisas fornecem algumas pistas de para onde podemos estar indo. Os militares possuem o maior nível de confiança da população (66%).  O Senado (17%), a Câmara (11%) e os partidos (7%) são as instituições de menor prestígio.

Sérgio Moro (59%) segue sendo o político mais popular do Brasil. Bolsonaro encolheu. Apesar disto, o presidente representa a nova política para 61%. A maioria considera que ele deve endurecer ou manter como está sua relação com o Congresso.

Metade da população considera que os governos Lula e Dilma são os responsáveis pela crise.

A democracia é uma invenção humana, uma construção dos sapiens, espécie dotada da capacidade de acreditar e cooperar em torno de abstrações.

Para a grande maioria do povo, ela é apenas meio para a melhoria de sua condição de vida. Seu João e Dona Maria participam da democracia apenas de dois em dois anos quando, obrigados, votam.

A democracia, na sua plenitude, é exercida por uma elite. Como dizia Churchill, “é a pior forma de governo, com exceção de todas as demais”. Mas, e se a democracia não funcionar?

O Brasil passou por três presidentes nos últimos quatro anos. Aguentaria o quarto, numa eventual queda de Bolsonaro? Ou seria mais um fracasso da alternativa democrática?

Roma foi uma República exitosa durante séculos, até que uma guerra pelo poder dividiu os romanos. A disputa entre Júlio César e Pompeu Magno gerou um vácuo de poder. O caos administrativo teve como conseqüência fome e desesperança.

Quando César voltou a Roma vitorioso e colocou ordem na casa, saciando a fome do povo, sentiu que poderia governar sozinho. O Senado, manchado por denúncias de corrupção e inoperância, foi obrigado a se dobrar diante do autoproclamado ditador.

O povo apoiou César. Ele manteve o Senado, esvaziando seus poderes. Os senadores, inconformados, assassinaram o mito com 23 facadas. Foi inútil. O destino da República já estava selado. Os Imperadores estavam a caminho.

Os movimentos de junho de 2013 formaram uma poderosa onda anti-sistema. Bolsonaro é apenas o surfista que pegou a onda certa. Não domina e está longe de ser a própria onda.

A esquerda, no governo, era a representação do sistema a ser derrubado. Com a economia crescendo foi possível enfrentar a onda. Quando o emprego faltou, a narrativa da corrupção como “causa sistêmica” finalmente triunfou.

Mas, e se mesmo com o triunfo do “combate à corrupção” o país não voltar a crescer? Os ataques sistemáticos ao Congresso Nacional e ao STF dão pistas de quem serão os próximos culpados engolidos pela onda.

O horizonte não é nada promissor. O Itaú revisou sua expectativa para o PIB deste ano para +1,3%. A capacidade ociosa da indústria beira os 40%.  O consumo das famílias já recuou 5,2% em 2019. A retomada do crescimento é uma miragem.

Na contramão da política de austeridade e desmonte, Bolsonaro anunciou a contratação de mil novos policiais federais e nomeou um delegado da PF para a chefia do Inep.

É pouco provável que os militares embarquem numa aventura aberta contra as instituições democráticas, mas com um Estado Policial sendo montado – que coloca faca até mesmo no pescoço de ministros do STF -, será preciso se expor? O destino da República está selado?

Levará tempo para que o povo consiga diagnosticar corretamente o fenômeno e suas causas. Por enquanto, vai sendo manipulado numa brutal guerra semiótica.

Tudo indica que o desfecho da crise, infelizmente, pode ser ainda pior. A travessia será longa. A onda parece estar longe do fim.