Realiza-se entre os dias 20 e 23 de janeiro mais uma edição do encontro anual do Fórum Econômico Mundial de Davos na Suíça cujo tema, “A quarta revolução industrial”, visa discutir os impactos da inovação tecnológica nas indústrias e na sociedade.
A abordagem deste ano esconde umas das principais contradições do sistema capitalista ao expor a necessidade crescente em se investir em máquinas com tecnologia de ponta que nada mais fazem que transferir valor em contraponto à precarização do trabalho humano, este sim, real gerador de valor e riqueza.
Na verdade, o que o tema elegantemente tenta disfarçar é a preocupação generalizada tanto dos chefes de Estado quanto do alto empresariado mundial com a crise global que se forma num horizonte próximo e da qual eles próprios foram determinantes.
A queda internacional do preço do petróleo, a desaceleração industrial da atual locomotiva do mundo, a China, as fortes oscilações nas bolsas de valores ao redor do planeta e sobretudo o aprofundamento da desigualdade social a nível global criaram as condições ideais para a formação de uma crise igual ou até mesmo superior à vivida em 2008.
E é justamente na desigualdade social, alimentada exclusivamente pela lógica capitalista, que reside a origem dos demais problemas fundamentados basicamente na concentração desenfreada da renda nas mãos de uns poucos privilegiados que ofertam produtos ao mesmo tempo que aniquilam a demanda.
Segundo relatório recém emitido pela organização não-governamental Oxfan, a riqueza dos 1% mais ricos do mundo superou a dos restantes 99% já em 2015, um ano antes do esperado.
Ainda segundo o relatório, apenas 62 bilionários possuem o mesmo capital que a metade mais pobre da população do mundo. Um escândalo descomunal sob todos os aspectos, principalmente para os que ainda acreditam que o capitalismo deu certo.
Não é à toa que à medida que o fosso social é aprofundado, mais difíceis se tornam os desafios que as grandes potências capitalistas se vêem obrigados a superar.
Como prova, basta notar que os países onde a igualdade social é mantida como item básico e obrigatório das metas do governo, a exemplo da Noruega, Dinamarca e Suécia, são exatamente os que menos sofrem com as crises do capitalismo.
O fato é que o mundo inteiro já não discute mais a possibilidade de uma grande crise, mas sim, as formas de mitigarem ao máximo os seus efeitos. Movimentos em direção a posições mais conservadoras estão sendo verificados em toda a parte.
Os economistas do Royal Bank of Scotland, por exemplo, orientaram os seus clientes, à exceção das obrigações de elevada qualidade, a se desfazerem de todos os seus papéis.
Que caminhamos a passos largos para a segunda grande crise do capitalismo em menos de uma década, parece já um consenso. A grande questão é: quando os iluminados de Davos irão reconhecer que está no capitalismo a origem do mal que tanto dizem estar combatendo?