No Rio de Janeiro em que Marielle Franco foi executada a tiros já tem intervenção federal e o Brasil flerta veementemente com os militares.
Como esquecer o tweet do General Vilas Bôas – responsável pela intervenção – afirmando que “o exército está atento às suas missões institucionais” um dia antes do julgamento do habeas corpus do ex-presidente Lula? E a icônica foto do mesmo general, um dia depois, recebendo um carinhoso e simbólico beijinho na testa do Secretário de Segurança Pública? Que resquício de democracia resistirá no país do presidente sem votos e do General do exército que pressiona a suprema corte?
O Brasil pós-golpe só caminha ladeira abaixo. O maior líder de esquerda da história do país está preso antes de esgotados todos os recursos da segunda instância, sua caravana e o acampamento onde estão seus apoiadores foram atacados a tiros.
A questão não é gostar ou não gostar de Lula ou do PT: a questão é conseguir ou não conseguir perceber que vivemos um estado de exceção. Não é um problema se posicionar politicamente, ainda que contra as esquerdas, mas é um problema recusar-se a enxergar o óbvio: a tensão política instalada no país beira o incontrolável.
E antes fosse puro alarde: Os atiradores que atacaram o acampamento atiraram para matar. A advogada Márcia Koakoski, de 42 anos, uma das feridas no ataque afirmou em um vídeo divulgado no YouTube que ouviu pessoas fazendo ameaças de morte no local, antes dos disparos.
Por pouco não conseguiram. Um segurança atingido no pescoço foi parar na Unidade de Terapia Intensiva. Segundo a advogada, os atiradores ameaçaram voltarem e matarem a todos no acampamento, e quem se atreve a duvidar?
A permanência dos manifestantes no acampamento é um sinal claro de que o medo não nos calará, mas ainda não é suficiente: a onda de ódio que tenta calar a voz das esquerdas a tiros não pode passar incólume. Todas as pessoas que ocupam o acampamento – e, para além delas, todas as pessoas que se manifestam politicamente nas esquerdas – são alvo eminente desses tiros. Todas aquelas vidas, e ainda outras, correm real perigo de vida por manifestarem suas convicções políticas.
Se isso não é um estado de exceção, eu já não sei o que é um estado de exceção.
Urge a questão: Quem são os atiradores que atacaram o acampamento pró-Lula? Contra quem atiram, já sabemos: contra todos nós. Mas por quem atiram? E quantos ainda precisarão pagar com o próprio sangue para que lutemos com a obstinação suficiente por essas respostas?