Uso da bandeira de Israel em ato bolsonarista preocupa entidades judaicas

Atualizado em 27 de fevereiro de 2024 às 18:35
Bolsonarista com bandeira de Israel durante ato na Avenida Paulista, em São Paulo. Foto: Lucas Saba/Gazeta do Povo

A presença de bandeiras de Israel no ato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no último domingo (25) na Avenida Paulista, em São Paulo, foi um dos assuntos mais comentados nas redes sociais. Com informações do Congresso em Foco.

O gesto, que já era previsto por entidades judaicas no Brasil, foi visto com preocupação diante da apropriação de um de seus principais símbolos.

Segundo o Instituto Brasil-Israel, o uso das bandeiras por manifestantes bolsonaristas é parte de uma “instrumentalização da imagem de Israel pela extrema-direita brasileira, baseada na perspectiva imaginária de um país conservador, branco e cristão”.

Em nota, a entidade destacou que essa representação “é contrária à realidade de uma sociedade composta por uma população diversa, com rachas internos difíceis de resolver, muito machucada pela guerra”.

Daniel Douek, assessor especial do Instituto Brasil-Israel, reforçou que o entendimento de que o uso das bandeiras “tem menos a ver com uma agenda da comunidade judaica do que com apoiadores de Bolsonaro, especialmente evangélicos, pelo lugar que o país ocupa em sua doutrina religiosa”.

Para o movimento Judeus Pela Democracia, o gesto também foi interpretado como uma apropriação por parte da ala evangélica. “O apoio incondicional de evangélicos à Israel bíblica e a aproximação pela extrema-direita a uma Israel belicista e imaginariamente conservadora ajudam a explicar. Some-se a isso o uso maniqueísta da guerra e temos o resultado mais do que óbvio”, afirmou.

Segundo Douek, as bandeiras também são usadas como um símbolo de oposição à atual conjuntura política. “Há desde um contraponto à esquerda, que exibe bandeiras da Palestina em suas manifestações, até a percepção de que o Estado de Israel representaria os valores conservadores que esses grupos reivindicam para o Brasil”, disse.

“A comunidade judaica brasileira é plural, composta por cerca de 120 mil pessoas. Existe judeu rico e judeu pobre, judeu branco e judeu negro, judeu de direita e judeu de esquerda. Daí que as reações em relação à presença da bandeira de Israel nesses atos variam muito”, ressaltou.

De acordo com Douek, o processo de apropriação tende a se intensificar com o avanço da polarização na política brasileira e do enfoque sobre a guerra no Oriente Médio.

“É triste ver que as evidências já divulgadas do golpismo do governo Bolsonaro não desmobilizaram a parcela conservadora, religiosa, militarista e potencialmente antissemita da população brasileira”, lamentou o movimento Judeus pela Democracia.

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