Os escândalos da vacinação contra a Covid-19 no Brasil têm surpreendido a imprensa europeia. Desta vez, é a “vacina de vento” que repercute numa campanha frequentemente vista como caótica, tardia e lenta.
“Vacinas de vento contra a Covid-19: o escândalo que indigna o Brasil”, diz o El Mundo, um dos principais jornais espanhóis, em reportagem desta quarta-feira.
Na visão do correspondente do periódico no Brasil Joan Royo Gual, o problema está longe de ser isolado.
“O escândalo das ‘vacinas de vento’, como é conhecido no Brasil, é só mais um da série de problemas da campanha de imunização que está havendo no país”, afirma.
“O Brasil começou a vacinar mais tarde do que a maioria de seus países vizinhos (no dia 17 de janeiro) e até hoje, com a primeira dose, 3,3% da população foi vacinada. As vacinas chegam em conta-gotas e, em muitas cidades, como Rio de Janeiro e Salvador, tiveram que parar de vacinar por falta de doses”, relata.
“A situação é particularmente frustrante tendo em vista que, historicamente, o Brasil é um dos países do mundo líderes em produção e distribuição de vacinas”, afirma.
“Os especialistas não se cansam de repetir nestes dias que o Brasil, com seus 212 milhões de habitantes, tem capacidade para vacinar cinco milhões de pessoas por dia. O problema é que faltam vacinas”, observa.
A publicação acusa o governo brasileiro de provocar a situação. “A gestão do governo de Jair Bolsonaro, que desde o princípio questionou a eficácia e segurança das vacinas contra a Covid-19, explica a paralisia”.
“Neste momento, o Brasil está vacinando sobretudo com a vacina do laboratório chinês Sinovac (graças ao acordo obtido pelo governo de São Paulo) e em menor medida com a de AstraZeneca”.
Para o jornal de Madri, a aprovação da vacina Pfizer-BioNTech pela Anvisa é uma boa notícia a ser relativizada por causa da indisposição de Jair Bolsonaro.
“O Brasil não tem nenhum acordo com o laboratório, que há meses chegou a oferecer 70 milhões de vacinas ao governo”.
“O executivo de Bolsonaro se nega a comprar vacinas da Pfizer. Alega que a empresa exige que o Estado se responsabilize no caso de possíveis efeitos adversos”.
“O Congresso Nacional do Brasil está trabalhando por uma lei para contornar Bolsonaro e facilitar a chegada de mais vacinas, cedendo às exigências deste e de outros laboratórios”.
Para mais um jornal estrangeiro, o Brasil vive um desespero provocado.