“Vagabunda”, “ordinária”, “put*”…: o show de misoginia dos bolsonaristas contra mulheres do governo Lula na web

Atualizado em 14 de julho de 2023 às 14:54
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com ministras. Foto: Ricardo Stuckert

As ministras do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) têm sido alvos de frequentes ataques misóginos nas redes sociais desde que foram empossadas, em 1º de janeiro deste ano.

Após fazer inúmeros acenos ao eleitorado feminino durante a campanha eleitoral de 2022, o petista alcançou um número recorde de mulheres no primeiro escalão do governo ao empossar 11 ministras para os 37 ministérios da nova gestão.

Os ataques contra as ministras variam desde comentários desrespeitosos sobre a aparência física até a atuação no governo.

Esses comentários ocorrem a partir de postagens de parlamentares bolsonaristas. A disseminação de informações falsas tem sido uma prática frequente nesse contexto, onde boatos são compartilhados nas plataformas com o objetivo de difamar as ministras e minar a confiança na administração do governo.

No Twitter, os termos mais usados para se referir as ministras são: “vagabunda”, “burra” e “puta”.

Entre as ministras mais atacadas nos últimos meses está Ana Moser, que comanda o Ministério do Esporte. A ex-jogadora de vôlei é a primeira mulher a ocupar a pasta na história do Brasil e a primeira assumidamente lésbica no cargo.

Recentemente, Ana viu sua pasta ser cobiçada pelo Centrão. Em entrevista ao Metrópoles, a ministra afirmou que a investida desse bloco político no Ministério do Esporte é uma “forma de assédio”.

Ana Moser abraçada com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Foto: Carla Carniel

“É uma relação de assédio que não fui a primeira [vítima]. A maior parte das assediadas são as ministras mulheres: Marina, Daniela, Nísia, e nós estamos trabalhando”, disse.

Em uma das publicações, Ana é chamada de “velha”, “burra” e “vagabunda”. Muitos desses comentários ocorreram após a ministra dizer que o eSports “é uma indústria de entretenimento, não é esporte”.

“Essa vagabunda da Ana Moser que vá para puta que pariu falando que eSports não é esporte. Vá se foder. Que nojo essa vaca velha ser aqui de Blumenau ainda por cima”, disparou um internauta.

Outro comentário ocorreu quando personalidades demonstraram apoio à gestão da ministra. “Vamos ser sincero, essa Ana Moser é tão burra quanto a Dilma”.

Outra ministra que também é alvo frequente de ataques misóginos é Simone Tebet, do Ministério do Planejamento. Antes de ser empossada, a ministra concorreu à presidência da República nas eleições do ano passado, ficando em 3º lugar.

No segundo turno das eleições presidenciais, Tebet anunciou apoio a Lula, que disputava a presidência com o então presidente Jair Bolsonaro (PL). “Depositarei nele [Lula] o meu voto, porque reconheço nele o seu compromisso com a democracia e a Constituição, o que desconheço no atual presidente”, declarou.

Nas redes sociais, a ministra é chamada de “ordinária”, “vagabunda” e “puta”.

As ministras Nísia Trindade (Saúde) e Marina Silva (Meio Ambiente) também não passaram “despercebidas”. Ambas foram chamadas de “burra”, além de outros termos ofensivos.

Nísia e Marina também foram alvos do Centrão. Recentemente, Lula precisou fazer uma defesa pública a ministra da Saúde, no qual afirmou que cabe a ele decidir quem comanda a pasta. O ministério vem sendo cobiçado pelo Centrão desde o início do governo.

O Ministério do Meio Ambiente, por sua vez, não sofreu pressão pública. No entanto, a pasta foi esvaziada quando os parlamentares votaram a medida provisória que reestruturou os ministérios do governo Lula. O mesmo aconteceu com o Ministério dos Povos Indígenas, chefiada por Sônia Guajajara.

Comentários misóginos contra ministras no Twitter. Fotomontagem/DCM
Comentários misóginos contra ministras no Twitter. Fotomontagem/DCM

ATAQUES CONTRA DEPUTADAS

Além dos ataques contra as ministras, deputadas também estão na mira de comentários ofensivos e preconceituosos. Um exemplo disso é a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), que foi alvo de homofobia durante a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos golpistas de 8 de janeiro, na última terça-feira (11).

De acordo com o senador Rogério Carvalho (PT-SE), o deputado bolsonarista Abilio Brunini (PL-MT) fez um comentário homofóbico durante uma fala da parlamentar.

Carvalho estava sentado uma fileira à frente de Brunini quando ouviu o comentário. “O senhor Abilio fez uma fala homofóbica quando a companheira estava se manifestando. Ele disse que ela estava oferecendo serviços. Isso é homofobia e desrespeito”, disse.

A senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), que estava ao lado de Carvalho, confirmou o teor homofóbico da fala. O presidente da CPMI, deputado Arthur Maia (União Brasil-BA), solicitou à Polícia Legislativa que investigue o episódio.

Outro exemplo é a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP), que desde o início da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) vem sofrendo ataques machistas.

Durante a última sessão da comissão antes do recesso, na quarta-feira (12), o presidente do colegiado, Tenente-Coronel Zucco (Republicanos-RS), ameaçou encerrar a sessão se a parlamentar não ‘ficasse calada’.

Em outro momento, o deputado General Girão (PL-RN) tomou a palavra e afirmou que Sâmia “se vale de ser mulher para silenciar os demais e se vitimizar quando lhe convém”.

Girão ainda disse que respeita todas as mulheres “por serem responsáveis pela procriação e pela harmonia da família”.

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