A poeta e escritora Paula Corrêa, presente na Flip, em Paraty, presenciou, nesta sexta-feira (12), uma manifestação de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, no maior evento literário do Brasil, contra o jornalista Glenn Greenwald, enquanto o mesmo participava de uma mesa de debate. O vídeo abaixo dá alguma ideia do que se está falando.
Os grupos bolsonaristas tentam calar @ggreenwald durante a Flipei. O editor do @TheInterceptBr garante que os tempos de “falta de evidências” sobre a parcialidade de Moro acabaram. “Vamos proteger o Brasil e a constituição”, diz Glenn. pic.twitter.com/SFRmj8JQyn
— Fórum 21 (@forum21br) July 12, 2019
A pedido do DCM, Corrêa enviou a esta Redação, com a sensibilidade que lhe é peculiar, um relato sobre o que testemunhou. Segue abaixo.
Como se os cavalos de Paraty fossem bem tratados
Não bastassem os cavalos de Paraty estarem mal tratados, serem explorados por um turismo cafona de charretes, charretes essas que também quebram no meio do caminho porque também sofrem com os maus cuidados, Paraty também guarda em seu âmago uma aprovação de “quase 100%” ao governo Jair Bolsonaro, como me disse o recepcionista da pousada em que estou hospedada.
Essa mesma cidade que recebe eventos literários, de jazz e de fotografia produziu hoje uma cena digna do próximo filme da Petra Costa. Divididos pelo rio Perequê-Açu, cerca de 30 manifestantes pró-Bolsonaro jogavam fogos e ligavam o som no último volume para abafar as vozes da mesa do Barco Pirata, da programação paralela da Flip, que recebia um certo jornalista.
Durante a fala deste jornalista, chamado Glenn Greenwald, que estava ladeado por Gregorio Duvivier e Sérgio Amadeu, eles cantavam o hino nacional numa nova versão funk, e lançavam seus fogos de artifício numa diagonal baixa, muitas vezes quase em cima do público que estava do lado esquerdo do rio para assistir e ouvir ao que os participantes diziam.
Conseguiram até abafar o som. Mas os membros da mesa falaram até o fim, até que os manifestantes por Bolsonaro também empunharam o microfone e gritaram: “Vagabundos, vão trabalhar”.
Uma mulher paratiense nos disse que, se fosse um baile funk, a Polícia já os teria silenciado, sendo que eles estavam tocando funk (no caso, o hino nacional).
Os cavalos de Paraty deveriam mesmo ser mais bem cuidados. Essa é uma máfia que ninguém consegue desmontar e enfrentar. Tirando os paratienses que são muito acolhedores, podemos dizer que, no geral, os cavalos cabisbaixos e de pêlo ralo, sem guarida nenhuma, são os melhores habitantes de Paraty.