Valter Pomar diz por que pediu a impugnação da filiação de Marta Suplicy ao PT

Atualizado em 18 de janeiro de 2024 às 23:06
Montagem de fotos de Valter Pomar e Marta Suplicy
Valter Pomar fez texto sobre Marta Suplicy – Reprodução

Nesta quinta-feira (18), Valter Pomar fez uma postagem em seu blog contando porque coordenou um movimento para pedir a impugnação do processo de refiliação de Marta Suplicy ao Partido dos Trabalhadores (PT). O integrante do diretório nacional da sigla expôs alguns pontos nos quais se baseou.

Um deles envolve a saída da veterana do partido, em 2015. De acordo com o texto de Pomar, Marta acusou o PT das mesmas coisas que a direita, no caso, de corrupção. Outro tópico do longo texto lembra do voto que a política deu em favor do impeachment golpista contra a presidenta Dilma Rousseff:

No dia 17 de janeiro escrevi uma correspondência para um dirigente do Partido.

Como não obtive resposta, no dia 18 de janeiro, escrevi outra correspondência, desta vez enviada pelo grupo de zap do Diretório Nacional do PT.

A referida correspondência foi postada no grupo de zap do DN as 7h40 da manhã.

As 15h31, recebo uma mensagem via zap de uma jornalista, perguntando: “Você entrou hoje com pedido de impugnação da filiação da Marta Suplicy?” E logo em seguida, a mesma jornalista pedia: “Pode me mandar o texto?”

As 16h28, recebo outra mensagem, também via zap, de outro jornalista, trabalhador de outro jornal, dizendo assim: “Por gentileza, o sr. poderia compartilhar comigo cópia da carta que foi endereçada a Henrique Fontana a respeito da filiação de Marta?”

Evidentemente, não enviei o texto solicitado.

Entretanto, no final da tarde, descubro que a CNN já havia noticiado a existência da tal correspondência e citado trechos.

Não está claro o horário em que a CNN teve acesso ao texto, se antes das 12h10 ou se antes das 17h46.

Seja em que horário for, o texto publicado no site da CNN diz o seguinte: “Em carta, divulgada internamente nesta quarta-feira (17) (…) O documento, ao qual a CNN teve acesso, foi enviado ao secretário geral do partido, Henrique Fontana. (….) A CNN apurou que o documento foi compartilhado nesta quarta-feira (17) em grupos de Whatsapp que reúnem diretores nacionais do PT”.

Traduzindo em bom português: algum integrante do DN passou o texto para a imprensa. Correndo o risco de ter sido alguém que vai votar em favor da filiação de Marta Suplicy, mas quer criar dificuldades para vender facilidades.

Isto posto, o fato é que a CNN teve acesso a correspondência. Sendo assim, publico abaixo a tal impugnação.

Prezado Henrique Fontana

Secretário-geral nacional

Encaminhei, ao companheiro, uma mensagem privada, para a qual ainda não obtive resposta nem confirmação de recebimento.

Assim, reencaminho agora mensagem com o mesmo teor, mas através do grupo de zap do Diretório Nacional do PT.

Faço isto, para evitar qualquer “perda de prazo”.

O caso é o seguinte: a imprensa noticiou que a direção municipal do PT de São Paulo capital teria feito uma reunião e “aceito” a filiação de Marta Suplicy ao Partido.

Embora a imprensa dê a entender que se trata de um “aceite prévio”, tipo “podes vir que serás bem-vinda”, e não de um ato de filiação formal, por via das dúvidas formalizo desde já que estou impugnando este pedido de filiação.

Caso, mais adiante, se faça um pedido formal de filiação, e caso este pedido seja acompanhado de uma exposição de motivos – pois é possível que, frente aos questionamentos, a Marta Suplicy resolva explicar o que fez desde 2015 –, neste caso poderei agregar novos elementos ao pedido de impugnação.

Entretanto, minha impugnação à filiação da Marta Suplicy ao PT baseia-se:

1/ na decisão de sair do PT, em 2015, decisão acompanhada de uma carta em que Marta acusa nosso Partido de diversas coisas, principalmente reforçando a campanha que a direita fazia contra o PT e faz até hoje, acerca da corrupção;

2/ nos votos que Marta proferiu, no Senado, em favor de políticas antipopulares, causando danos imensos à classe trabalhadora, em nada se diferenciando dos parlamentares da direita golpista;

3/ no voto que Marta deu em favor do impeachment golpista contra a presidenta Dilma Rousseff, traindo o eleitorado que a havia colocado no Senado, traindo o partido do qual fizera parte até há pouco e que a elegera inúmeras vezes. O voto a favor do golpe ajudou a abrir caminho para um período de retrocesso em todos os terrenos;

4/ na posição que Marta adotou depois de sair do PT, tanto em alguns processos eleitorais, quanto com sua participação no atual governo de São Paulo capital, sendo objetivamente cúmplice das políticas antipopulares implementadas pela atual prefeitura;

5/ no fato de que, para apoiar Boulos nas eleições municipais de 2024, Marta não precisa estar filiada ao PT, podendo se filiar a outro dos partidos que apoia a candidatura;

6/ na conclusão de que, dado este histórico, eventualmente filiada ao PT, Marta não representará o PT, nem na campanha, nem no eventual governo, mas a si mesma e às pessoas em que ela confia.

Obviamente, é positivo que, depois de anos contribuindo com a direita – época em que chegou a confraternizar inclusive com figuras ridículas e nefastas da extrema-direita-, Marta volte agora a contribuir com a esquerda e, inclusive, apoie a candidatura Boulos em São Paulo.

Mas não é necessário, não é indispensável e não é positivo que Marta o faça a partir do PT, pois é evidente que – da forma como a “operação regresso” foi articulada – a refiliação não constitui uma saudável “autocrítica”, mas sim uma demonstração de falta de respeito do Partido para consigo mesmo.

A moral da história é: qualquer um pode fazer qualquer coisa e, apesar disso, em nome de uma possível vantagem eleitoral, estamos sempre dispostos a “virar a página”. O resultado prático é desmoralizar os que se mantiveram firmes nos momentos mais difíceis e, ao mesmo tempo, estimular futuras traições.

Esta atitude de falta de respeito do PT para consigo mesmo é, ademais, imprudente, pois quem cometeu tamanha violência no passado, poderá – a partir da posição de poder generosamente concedida pelos que foram vítimas da violência – voltar a cometer novas violências.

Esses acima são os meus motivos para impugnar a filiação de Marta Suplicy ao PT. Reitero, pela enésima vez, meu desagrado com o fato de se ter misturado a discussão sobre a vice com a discussão sobre a refiliação. Essa mistura não interessa à campanha, interessa apenas a quem quis aproveitar a situação para regressar ao Partido, sem muitos questionamentos.

Companheiro Fontana

Encaminhei ao companheiro Kiko, presidente do diretório estadual do PT de São Paulo, a mesma mensagem que te encaminhei anteriormente e que, até agora pelo menos, você ainda não pode responder. Entretanto, o companheiro Kiko respondeu e manifestou acordo com a opinião de que a impugnação deve ser tratada nacionalmente.

A saber: peço que a impugnação seja debatida e votada diretamente no Diretório Nacional do PT, seja por economia processual, seja pela articulação da filiação ter sido feita nacionalmente, seja devido ao caráter nacional da disputa em São Paulo capital, seja devido à dimensão nacional da pessoa a quem se pretende filiar, seja devido ao fato de o estatuto assim permite.

Atenciosamente,

Valter Pomar, 18 de janeiro de 2024

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