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Por Moisés Mendes
Imaginavam que o Centrão iria saquear até os saqueadores do governo, apropriando-se de verbas de orçamentos secretos, de cargos e outros privilégios. Imaginavam que o esquema do Centrão era o mesmo de sempre.
Não é mais. O Centrão assumiu o controle de negócios bilionários na pandemia e comanda a importação de vacinas genéricas, e não só da indiana Covaxin.
A novidade agora são as redes envolvidas na tentativa de compra da vacina chinesa Convidecia, do laboratório CanSino. O Centrão também está nessa empreitada.
É um negócio de R$ 5 bilhões, que envolve de novo um personagem sempre presente nas suspeitas em torno da pandemia, o véio da Havan.
Luciano Hang, segundo O Globo, é lobista declarado da empresa Belcher Farmacêutica, de Emanuel Catori, do Paraná, importadora da CanSino.
Além do véio, também participa do lobby o ex-dono da empresa de inglês Wizard, Carlos Wizard. Os dois já vinham sendo citados como interessados na produção, compra e disseminação da cloroquina.
Mas, se o Centrão tem o controle das importações das duas vacinas, com o comando de Ricardo Barros, o que Wizard e o véio da Havan fazem na história?
Os dois estariam reforçando o suporte político ao importador Emanuel Catori, pelas influências dentro do governo. É possível também que os sujeitos estejam disputando parte das vantagens nos negócios com gente do próprio Centrão.
Mas que vantagens? A CPI terá de desvendar que interesses são esses, por mais óbvios que sejam. Por que dois empresários de áreas tão distintas e alheias à saúde envolvem-se com cloroquina e vacinas?
O deputado Luis Miranda (DEM-DF) deu mais pistas, em entrevista às Folha, do controle absoluto do Ministério da Saúde pelo Centrão.
Com a saída de Eduardo Pazuello, a turma de Ricardo Barros teria passado a controlar até a importação de testes de Covid.
“Se existir algo realmente ilegal, não é só nessa vacina (Covaxin), é na pasta toda. O presidente Bolsonaro demonstra claramente que não tem controle sobre essa pasta”, disse Miranda à Folha no domingo.
O irmão do deputado, o servidor Luís Ricardo Miranda, é o informante que sabe tudo. O Centrão transformou a estrutura de “combate” à pandemia numa empresa.
Mas enquanto até o véio da Havan aparece no rolo da vacina chinesa, é estranho que até agora os nomes dos filhos de Bolsonaro não tenham sido citados.
Sabe-se que Flavio tentou se atravessar na compra de vacinas por particulares e empresas e que Carluxo é lobista da cloroquina, mas os dois, e mais Eduardo, não aparecem nas denúncias sobre a Covaxin e agora sobre a CanSino.
Poderemos concluir mais adiante, se nada for apontado na direção dos três, que os irmãos só de dedicam a pequenos delitos que acabam se transformando em montanhas de dinheiro e patrimônio.
Flavio Bolsonaro pode ser reduzido a gestor de rachadinhas (a mesma atividade de Carluxo) e lavagem de dinheiro, que renderam até agora à família um patrimônio imobiliário de mais de R$ 15 milhões.
O roubo do Ministério da Saúde seria para profissionais do Centrão, e não para chefes de quadrilhas de rachadinhas.
O véio da Havan, frequentador da Saúde e amigo de Bolsonaro, deve saber da partilha dos negócios e quem fica com o quê.
O depoimento do véio na CPI, que precisa ser marcado logo, terá com certeza a maior audiência já alcançada pelos interrogatórios da comissão.