Venezuelanos vão às urnas para decidir sobre a continuidade de Maduro e do chavismo

Atualizado em 28 de julho de 2024 às 7:28
Mulher com bandeiras da Venezuela em mãos. Foto: Eneas De Troya/Brasil de Fato

Neste domingo (28), os venezuelanos vão às urnas em um cenário político sem precedentes nos 25 anos de chavismo. Nicolás Maduro, no poder desde 2013, enfrenta uma ameaça inédita ao seu mandato devido à pressão internacional e à crise econômica prolongada. A oposição se mobilizou em busca uma mudança no comando do país.

Entre os dez candidatos presidenciais, Edmundo González Urrutia, de 74 anos, é o único adversário real de Maduro. González, embora seja o nome na urna, é uma figura de representação. Quem realmente mobilizou multidões nos últimos meses foi María Corina Machado, de 56 anos. A ex-deputada liberal, conhecida por sua oposição ao chavismo desde os anos 2000, moderou seu discurso, priorizou consensos e fortaleceu sua imagem em comícios massivos.

Machado foi condenada à inelegibilidade, mas ainda assim conquistou mais de 90% de apoio nas primárias da oposição. Em resposta, escolheu González para representá-la, após a tentativa frustrada de lançar a filósofa Corina Yoris, de 80 anos. “Felizmente e surpreendentemente agora temos enorme disposição de outros setores políticos de participar do processo, e não de sabotá-lo”, comentou Luis Lander, do Observatório Eleitoral Venezuelano à Folha de S.Paulo.

Nicolás Maduro, presidente da Venezuela. Foto: Federico Parra/AFP

A incerteza domina o pleito em um cenário em que, de um lado, existe a possibilidade de vitória da oposição, que detém cerca de 60% das intenções de voto segundo pesquisas independentes. Do outro, a chance de o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anunciar uma nova vitória de Maduro, levando a acusações de fraude. Não há segundo turno, e a posse só ocorre em janeiro, o que pode adicionar meses de incerteza no país.

As ruas de Caracas, na véspera da votação, estavam calmas, adornadas com cartazes de Maduro e pinturas de Hugo Chávez. Os resultados são esperados apenas na madrugada de segunda-feira (29).

Nos últimos meses, Maduro tem lidado com uma derrocada da economia venezuelana, agravada por sanções dos Estados Unidos e isolamento regional. A crise humanitária e a diáspora são marcas de seus 11 anos no poder. Mesmo assim, ele afirma ser o único capaz de recuperar a economia.

Por outro lado, González é uma incógnita, sem plano de governo divulgado. María Corina Machado, possivelmente indicada a chanceler, continuará sendo uma figura central na oposição. Apesar das chances reais de vitória, a repressão contra opositores persiste, com pelo menos 130 detidos durante a campanha, embora muitos já tenham sido soltos, em uma prática conhecida como “porta giratória”.

Sete membros do alto escalão da campanha oposicionista estão asilados na embaixada argentina em Caracas. O advogado Eduardo Torres critica o regime de Maduro por “um abuso crônico da legislação nacional de terrorismo para deter quem critica o regime”.

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