Ah, o bolsonarismo que não ousa dizer seu nome… O comentarista da GloboNews Guga Chacra precisa tomar um chá de maracugina, um rivotril ou algumas lições de boas maneiras dos responsáveis por ele.
Ao entrevistar, nesta terça (18), o ex-ministro de Relações Exteriores e da Defesa e atual assessor especial da presidência da República, Celso Amorim, Chacra perdeu a linha e inquiriu o convidado com o dedo em riste. Era uma Zambelli de saias, pronto a sacar um revólver.
Destemperado, tentava coagir o outro a concordar com ele a partir de uma pergunta interminável e pretensiosa. Uma coisa coisa é uma entrevista dura, percuciente. Outra coisa é a pura truculência.
“Embaixador, o senhor e o governo do Brasil falam muito em paz. Mas a gente observa vários conflitos no mundo que não têm paz. O que tem é cessar fogo, seguido de armistício e que são, muitas vezes, soluções injustas, no caso do Chipre, onde a Turquia ocupa dois terços do território cipriota”, iniciou o jornalista, dando aula.
“E uma outra pergunta: o senhor tem planos de visitar Kiev, já que o senhor foi até Moscou? Não seria mais equilibrado visitar Kiev e convidar o Kuleba (Dmytro, chanceler da Ucrânia) para visitar o Brasil também? Por que essa diferença de o senhor ir à Rússia e o Lavrov (Sergey, ministro de Relações Exteriores da Rússia) vir ao Brasil? O senhor poderia, inclusive, ter ido a Kiev nessa viagem que foi a Moscou”, ordenou.
Amorim tentou retorquir com a habitual cortesia: “Você conhece as rotas de avião? Você acha que é fácil ir de Moscou a Kiev, sem correr um sério risco?”
Chacra, então, sacudiu o indicador na direção de Amorim, explicando como era fácil ir a Kiev — onde ele nunca pisou e não pretende pisar tão cedo — num tom de delegado do Bope. Amorim tem 80 anos. Chacra, 46. Desconheço se tem os pais vivos, mas é o caso de se perguntar como se sentiria se um sujeito se dirigisse a um deles dessa maneira, como um moleque malcriado.
Quando finalmente pôde se manifestar, Celso Amorim explicou que, na volta de Moscou, parou na França, aliada da Ucrânia e que o Brasil está disposto “a conversar com quem que seja”.
“Agora, cada vez que surge um convite, não é um convite para conversar, é um convite para ir lá ver a guerra. Nós sabemos que a guerra é uma coisa terrível. Nós vimos a guerra do Vietnã, nós vimos as guerras no Afeganistão, vimos a invasão do Iraque, vimos tudo isso. Eu não estou diminuindo a importância nem a tragédia do povo ucraniano. Os convites são sempre dessa forma”, afirmou.
“É preciso haver uma disposição de conversar, de ouvir e ser ouvido. É isso que nós estamos procurando. Eu não excluo que se houver um convite desse tipo e dependendo, obviamente, da decisão do presidente Lula, porque eu sou um assessor dele, não sou, sequer, ministro, eu certamente consideraria”.
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