Publicado originalmente no site do autor
POR ALBERTO CARLOS ALMEIDA, cientista político
O vídeo divulgado hoje diz respeito a uma reunião ministerial, uma reunião típica da rotina de um governo. Ao mesmo tempo, o vídeo só foi tornado público por ser útil a uma investigação. A minha sugestão é que você o analise pensando em suas mensagens principais:
1) Moro é ruim de provas, o vídeo não corrobora suas acusações. No que depender apenas desta reunião ministerial, Augusto Aras irá arquivar o inquérito que investiga a interferência na Polícia Federal.
2) O assunto principal da reunião foi a crise da pandemia, o que tornou evidente que o governo está perdido, não sabe o que fazer diante dela em todas as áreas, incluindo a economia.
3) A gravação revelou que Bolsonaro tem uma equipe fraca, cheia de sicofantas e teóricos, pessoas ideológicas, sem pragmatismo ou mesmo experiência prática em resolver problemas igualmente práticos da população.
4) Foi possível notar que a equipe é afinada com o Presidente “no tocante” a governar para uma minoria. Os auxiliares são agressivos e não fazem o menor esforço para ampliar o apoio político.
Diante disso conclui-se que Bolsonaro não sabe o que fazer como governante, ele sabe apenas proferir discursos ideológicos até mesmo em reuniões fechadas de governo. Trata-se do perfil de presidente que o Centrão adora, pois seus líderes são bons enxadristas, ao passo que Bolsonaro comporta-se em uma reunião ministerial como se estivesse em um bar ou falando no cercadinho do Palácio Alvorada.
O vídeo sensibiliza o mundo político, formadores de opinião, empresários de diversos portes e a base mais escolarizada que votou 17 em 2018. Isso significa que as imagens divulgadas contribuem para minar o apoio de Bolsonaro junto a quem ainda tinha alguma esperança de ver o governo lidando melhor com a crise da pandemia.
O episódio foi ruim, por motivos diferentes, para Moro e para Bolsonaro. Quem achou que o vídeo favorece Bolsonaro está considerando que o eleitorado dá mais peso a discursos ideológicos do que para a solução de graves problemas reais. Não é assim que funciona a cabeça do eleitor.