A produtora de cinema Luciana Tomasi (de “Saneamento Básico”, 2007, “Meu Tio Matou um Cara”, de 2004, e “O Homem Que Copiava”, de 2003) foi acusada de racismo durante um debate promovido pela Associação Profissional de Técnicos Cinematográficos do Rio Grande do Sul (APTC-RS).
Os participantes discutiam o filme “Inverno” (1983), produzido por Luciana, e a influência europeia no cinema gaúcho, quando a produtora ressaltou que a maioria dos convidados possui sobrenomes de origem europeia e disse o seguinte:
“Não adianta a gente tentar fazer um filme da senzala, entende? (…) Eu inclusive tenho sangue francês (…) Cada um faz [filme] sobre a sua história”.
compartilho com vocês o trecho da live da aptc-rs, onde a representante da prana filmes, luciana tomasi, faz um comentário absurdamente nojento e racista, seguido por risos de quase todos os participantes.
nojo me define nesse momento. pic.twitter.com/S4NwMZ6PxH
— hariel (@harielfilipe) July 5, 2020
Enquanto os demais convidados riram da fala de Luciana Tomasi, a roteirista Mariani Ferreira, única negra do grupo, respondeu à altura:
“Acho que tem duas coisas no cinema gaúcho que sempre me impressionam: essa coisa de mostrar uma Porto Alegre que é apenas um recorte da Porto Alegre real, não é a Porto Alegre total. Ao mesmo tempo em que essa Porto Alegre é a Porto Alegre dos Tomasi, dos Gerbasi, dos Adami, Porto Alegre também é a Porto Alegre dos Oliveira Silveira. Porto Alegre é onde nasceu o 20 de novembro [feriado do Dia da Consciência Negra]. É bem triste dizer que não se faz ‘filmes de senzala’ em Porto Alegre”.
Acabei de ver que a Mariani Ferreira, a roteirista e única negra na conversarespondeu à altura! pic.twitter.com/gtMIQAKh9W
— Naomi Campo Belo (@maiaalessandro) July 7, 2020
A repercussão negativa do debate nas redes sociais levou a APTC a alterar a descrição da íntegra da transmissão no YouTube, para incluir o aviso “este vídeo contém falas de cunho racista”, e emitiu um comunicado:
“O silêncio e omissão dos outros participantes após o ocorrido expõe ainda mais uma realidade do audiovisual brasileiro branco que é incapaz de perceber ou reagir imediatamente a absurdos como o que registramos aqui. Não poderíamos ter sido omissos naquele momento, independente do quão chocados estávamos. A APTC reconhece e pede mais uma vez desculpas pelo seu erro de não ter reagido com a urgência necessária à situação, não se posicionando imediatamente”, diz a nota.
“Assistir as falas de cunho racista e o silêncio dos presentes neste debate, é desconfortável, doloroso e ofensivo. Porém, é importante deixar disponível o registro dessa discussão na íntegra, para que não caiamos no erro de invisibilizar o debate em uma sociedade contaminada pela forte herança colonial e escravocrata, contexto no qual essa entidade surgiu e se consolidou”, completa a APTC.