O general Augusto Heleno queria colocar agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) infiltrados nas campanhas eleitorais de concorrentes de Bolsonaro pela presidência em 2022. Essa intenção foi revelada pela Polícia Federal e comprovada pela gravação da reunião golpista divulgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) nesta sexta-feira (9).
“Nós vamos montar um esquema para acompanhar o que os dois lados estão fazendo. O problema disso é, se vazar qualquer coisa, muita gente se conhece nesse meio, se houver qualquer acusação de infiltração desses elementos da Abin em qualquer um dos lados…” disse Heleno, antes de ser interrompido por Bolsonaro, que alertou para as chances de vazamento e afirmou que trataria deste assunto em particular.
“Ô general, eu peço que o senhor não fale, por favor. Não prossiga mais sua observação aqui. Eu peço e não preciso da sua observação. Se a gente começar a falar ‘não vazar’, esquece, pode vazar. Então a gente conversa em particular na nossa sala sobre esse assunto”, pediu o ex-presidente.
Inacreditável! General Heleno fala em usar agentes infiltrados da Abin nas campanhas de Bolsonaro e Lula, mas bolsonaro corta fala do general e diz que depois conversariam em particular sobre o tema. pic.twitter.com/lz0Lwi41EW
— Lázaro Rosa ?? (@lazarorosa25) February 9, 2024
Durante a reunião ministerial realizada em 5 de julho de 2022, cujo vídeo foi encontrado na residência do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, Heleno expôs suas considerações sobre a atuação da Abin nas eleições. “Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições”, afirmou Heleno, conforme trecho da transcrição divulgada por Alexandre de Moraes.
O diálogo registrado na transcrição da PF revela ainda mais sobre a postura e intenções discutidas na reunião. Após ser interrompido por Bolsonaro, que sugeriu tratar do assunto em particular, Heleno prosseguiu enfatizando a necessidade de ações pré-eleitorais para garantir a vitória do então presidente.
“Eu acho que as coisas têm que ser feitas antes das eleições. E vai chegar a um ponto que nós não vamos poder mais falar. Nós vamos ter que agir. Agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas. Isso pra mim é muito claro”, ressaltou o ex-ministro do GSI.
Para Alexandre de Moraes, o conteúdo desses diálogos evidencia uma dinâmica golpista que se desenvolveu dentro do governo Bolsonaro. O ministro do STF destacou a tentativa de validar e amplificar desinformação e narrativas fraudulentas sobre as eleições e a Justiça Eleitoral, incluindo ataques a figuras como Luiz Inácio Lula da Silva, o Tribunal Superior Eleitoral e ministros do Supremo Tribunal Federal.
Veja a íntegra da reunião em julho de 2022: