O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, bacharel em Direito de 44 anos, não é figura que chega agora à direita, oportunisticamente, com a ascensão de Jair Bolsonaro.
Ele não tinha chegado aos 40 e estava ao lado de senhoras da alta roda de São Paulo que, no dia 25 de abril de 2012, chamaram a imprensa para registra-las telefonando para as assessorias do então presidente do STF, Carlos Ayres Britto, e do ministro Joaquim Barbosa, da mesma corte.
As imagens que foram tomadas no evento são constrangedoras.
O jovem futuro ministro sentado no meio das mulheres, que se dividem como foco da atenção das câmeras em falas como a da advogada Raquel Alessandri, membro da União Democrática Nacional: “Temos que ficar em cima porque a população esquece. É só perguntar para as empregadas que a gente já sabe que [a população] tem outras preocupações”.
Não é fake news, está no video abaixo.
Como se nota, havia no evento tanto ou mais profissionais da imprensa do que socialites, além do ministro Salles.
As senhoras fizeram suas ligações, não foram atendidas por nenhum ministro, erraram o nome do tribunal, informaram a um dos servidores que as atendeu que estavam ligando porque a sociedade queria explicações e providências. Foi isso.
O mote de tudo isso, o que levou ao evento-protesto, foi as senhoras terem se sentido traídas pelo ex-procurador Demóstenes Torres, que combatia a corrupção e era contra o Mensalão, mas que, descobrira-se, não era ele mesmo tão probo assim.
De resto, não foi nem a primeira nem a segunda atuação política do ministro Salles, de 44 anos e com um orçamento de R$ 2,8 bilhões e um ou outro hectare de floresta tropical nas mãos.
Em 2006, as 31 anos, ele fundou o MEB (Movimento Endireita Brasil), junto com outros talentos conservadores de sua geração.
Fizeram o curso de liderança no Leadership Institute, uma das organizações financiadas pelos Irmãos Koch, espécie de mecenas do conservadorismo global.
Há quem diga que a rede em que se emaranhou o ministro Salles é pouco mais que uma extensão paraestatal da política exterior dos Estados Unidos.
De qualquer forma, na época de seu vídeo com as socialites, o futuro ministro já sabia de qual então e atual ministro, do STF, ele não gostava.
Em agosto de 2012, juntamente com um amigo advogado, entrou com um pedido de impeachment, na presidência do Senado, contra o ministro José Antonio Dias Toffoli, por crime de responsabilidade.
O pedido não prosperou, mas fez bem para o currículo de Ricardo Salles.
No início do ano seguinte, o então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), o nomeou para a Secretaria Particular. Ele passou a gerenciar a agenda do governador, seus compromissos e viagens, além das relações com prefeituras e parlamentares.
Três anos depois, se tornou secretário de Meio Ambiente e, na sequência, passou a enfrentar processos e condenações por fraudes ambientais, como já se informou ultimamente.
De maneira que o ministro do Meio Ambiente está no governo que se esperava que ele estivesse, no lugar que se esperava que ele estivesse, fazendo o que se esperava que ele fizesse.