A Universidade de Brasília (UnB) abriu uma investigação formal para apurar possíveis infrações cometidas pelo youtuber de extrema-direita Wilker Leão, estudante de História da instituição, após ele divulgar em suas redes sociais gravações de aulas em que critica e satiriza professores e colegas.
Com abordagem semelhante ao dos influenciadores do Movimento Brasil Livre (MBL), ele ficou conhecido por um vídeo viral de 2022, quando chamou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de “tchutchuca do centrão”, Leão se envolveu em nova polêmica ao alegar “doutrinação de esquerda” nas aulas de história. Logo após a viralização, ele entrou para o grupo de influenciadores de extrema-direita. Leão recebeu uma bolsa para participar da Academia MBL 2023.
Nos vídeos, Leão faz piadas e comentários críticos sobre temas abordados em aula, incluindo direitos humanos, racismo e gênero, expondo professores e estudantes. Ao Uol, colegas afirmaram que suas edições distorcem as falas, o que tem gerado um ambiente hostil.
“Ele distorce as falas, edita as conversas e constrói uma situação irreal. Já disse abertamente que faz isso porque dá mais visualizações”, relatou um colega em anonimato. Em resposta aos vídeos do youtuber, professores e estudantes assinaram um termo proibindo o uso de suas imagens, mas os vídeos continuam sendo publicados, o que levou uma professora a registrar boletim de ocorrência por difamação.
A docente que teve suas aulas divulgadas, sando alvo de comentários de ódio nas redes, relatou que seus filhos menores também foram expostos a essas mensagens. A Polícia Civil do Distrito Federal investiga o caso.
Enquanto isso, a UnB afirmou que “o uso público de materiais pedagógicos sem autorização fere direitos autorais” e declarou apoio aos professores e estudantes afetados. A associação de docentes da UnB (ADUnB) também oferece suporte e cogita uma ação judicial coletiva contra o youtuber, incluindo pedido de indenização por danos morais e possíveis sanções disciplinares.
O uso da imagem de pessoas sem consentimento infringe a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que exige consentimento prévio e informado para esse tipo de divulgação. Professores da UnB acusam Leão de “sabotagem” ao utilizar as aulas como material para criticar a instituição e fazer críticas políticas, nas quais afirma que as universidades públicas do Brasil “doutrinam” seus estudantes.
Durante as gravações, Leão interrompe os professores, acusando-os de direcionamento ideológico e, em alguns casos, de desconhecimento do tema ensinado.
Em um dos vídeos, ele reage a uma discussão sobre racismo ao dizer que “não foram só negros que foram escravizados; brancos também foram”. Em outro, ao comentar uma abordagem policial controversa contra jovens negros filhos de embaixadores, defende o uso de armas pela polícia.
esse video inteiro é intakável https://t.co/6YtwbGaKz1 pic.twitter.com/cR1O2khsSp
— jaqueline (@mannfrin) October 26, 2024
Com mais de um milhão de seguidores nas redes, o youtuber acumula visualizações que geram receita em plataformas como X, antigo Twitter, Instagram, TikTok e, principalmente, no YouTube. Um dos vídeos mais populares de Leão, com mais de sete milhões de visualizações, intensificou o conflito na universidade.
Segundo seus colegas, a postura de Leão gera prejuízos ao calendário acadêmico, com debates sendo interrompidos e aulas sendo desviadas de seu conteúdo original. “Há bastante prejuízo ao calendário. Mais de uma vez, um debate sobre um determinado livro, texto, autor não pôde ocorrer até o fim porque ele desviou a conversa para outra coisa que fosse material para seus vídeos”, relatou um estudante.
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