A guerra de longa duração entre Israel e o Hamas exige a rotação de tropas armadas e, em particular, de reservistas israelenses. No entanto, alguns destes jovens estão se recusando a participar. É o caso de Sofia Orr, uma das vozes da juventude israelense, que pede o fim do conflito. Ela mora em Pardes Hanna-Karkur, ao norte de Tel Aviv.
Sofia tem 18 anos, idade suficiente para ingressar no Exército. No entanto, ao ser convocada, ela não pestanejou. “Em fevereiro, eu me recusei a servir o Exército israelense e, por isso, irei para a prisão militar”, afirmou à RFI.
A jovem é uma das figuras do movimento “Mesarvote”, um grupo antimilitar que hoje conta com várias dezenas de membros. “A maioria das pessoas neste país tem esse espírito militar, que apoia o Exército, seja o que for que aconteça, e isso, claro, inclui entes queridos. Às vezes me chamam de traidora ou de judia raivosa. É muito difícil”, confidencia.
“Devemos fazer a paz”
Seu rosto tornou-se público, assim como o de seu amigo Tal Mitnick, o primeiro a se recusar a cumprir o serviço militar desde 7 de outubro. Ele foi condenado na semana passada a uma pena inicial de um mês de detenção.
Tal Mitnick, the conscientious objector who was sentenced for 30 days in military prison a week ago, wrote a statement explaining why he chose to refuse in a time of war.?️✊
"There is no military solution"
1/6 pic.twitter.com/dSh77m2Oqr
— Mesarvot מסרבות (@Mesarvot_) January 2, 2024
“Você pode ter isenção, fazer com calma e não ser humilhado publicamente por isso. Mas isso não é uma opção para mim. Sinto que tenho que falar sobre isso publicamente e tentar causar o máximo de impacto possível”, garante Sofia Orr.
Desde então, ela tem repetido incansavelmente. “A violência extremista do Hamas não pode ser combatida com mais violência. Quero fazer parte da solução e não do problema. É preciso fazer a paz, não há outras opções”, finaliza a jovem.
Entrada “numa nova fase” da guerra
Cinco brigadas israelenses serão em breve retiradas ou redistribuídas. Os reservistas também farão uma pausa para se prepararem para o “combate prolongado”, informou o Exército de Israel. Para David Rigoulet-Roze, pesquisador associado do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas e editor-chefe da revista “Orient Stratégique”, este anúncio do Exército indica que a guerra entra “em uma nova fase”.
“Segundo as declarações das Forças Armadas de Israel, trata-se de uma redistribuição com o objetivo de lhes permitir retomar o seu trabalho, portanto há uma lógica econômica e, passo a citar o Exército israelense: ‘Estamos planejando a gestão das forças que operam no terreno, examinando o sistema de reservas, a economia, a renovação das forças e a continuação dos processos de treinamento de combate dentro das Forças Armadas.’ Então, existe um sistema de rodízio que hoje funciona, o que mostra que estamos entrando em uma nova fase. Isso já foi mencionado diversas vezes”, disse o especialista.
“A primeira fase seria a dos bombardeios massivos, a segunda da operação terrestre e a terceira fase seria de menor intensidade, particularmente no norte de Gaza. Isto corresponderia aos pedidos americanos, em particular de Jake Sullivan, conselheiro de Segurança de Joe Biden, que esperava, a partir de janeiro, que houvesse efetivamente operações de menor intensidade. Mas isso não significa mudança de estratégia, faz mais parte de um planejamento de longo prazo”, analisa o pesquisador.
Impacto econômico e orçamental para Israel
Como salienta David Rigoulet-Roze, as razões para esta retirada dos reservistas israelenses podem ser estratégicas, mas também econômicas. “Foram mobilizados 360 mil reservistas, o que representa entre 10 e 15% da força de trabalho israelense, especialmente nas pequenas e médias empresas. Esta é a essência da estrutura econômica. Há, portanto, um claro impacto econômico. Há também um impacto orçamental, com um déficit que rondará os 8%. Mas, além disso, também podemos nos questionar sobre as modalidades de redistribuição. Alguns levantam a possibilidade de que unidades sejam realocadas no norte do país, com potencial abertura de uma frente, na fronteira com o Líbano”, explica.
Publicado originalmente na RFI