Infelizmente, é uma triste rotina. No último domingo (12), um caso triste e bizarro de racismo estrutural e institucional aconteceu em frente à estação Carandiru do metrô, na Zona Norte da capital paulista. O local, ironicamente, fica em frente à antiga Casa de Detenção do estado de São Paulo, local onde (oficialmente) 111 detentos foram brutalmente assassinados pela tropa de choque da PM paulista em outubro de 1992.
E neste domingo, os personagens envolvidos eram parecidos no contexto terrível em que vivemos. De um lado, um homem branco, armado e descontrolado, mas protegido pelo Estado por sua condição, aponta uma arma para um adolescente negro que só não é atingido pela fúria descontrolada do homem com a arma por conta de uma mulher, que o conhecia, que ficou na frente do garoto, implorando para que ele não atirasse.
O bizarro aparece em toda a sua forma quando um popular que estava gravando toda a cena dantesca pede ajuda para uma policial que estava uniformizada com uma camisa da PM e arma no coldre. Ela diz que não pode fazer nada pois “estava de folga”. Assintindo à toda cena, imóvel e de braços cruzados, a PM, branca ainda ameaçou prender a pessoa que estava filmando e rechaçou o jovem ameaçado com um chute.
No ano passado, na véspera do segundo turno da eleição, aconteceu algo parecido comigo. E estavam também envolvidos uma pessoa branca privilegiada (no meu caso, ainda mais por conta do cargo que ocupa), um policial armado e alguns populares filmando. Eu imagino o constrangimento pelo qual este jovem passou e a revolta que ele deve ter sentido quando viu a omissão de quem deveria proteger todos os cidadãos, sem distinção.
URGENTE: FILMAGENS DESMENTEM QUE ZAMBELLI TERIA SIDO AGREDIDA, RALOU O JOELHO CAINDO SOZINHA pic.twitter.com/ZFfR5CV5Wj
— André Janones (@AndreJanonesAdv) October 29, 2022
Mas na São Paulo em que vivemos, e que está intensificada com a escolha de um governador alinhado às práticas higienistas, isso infelizmente está se tornando rotina. E isso cansa. Cansa muito.
Pois o constrangimento de estar na mira de uma arma em uma via movimentada é terrível. Aterrorizante. Aterrador quando nós, homens pretos, pensamos em como a sociedade olha para a gente: como pessoas indignas, selvagens e que podem passar por esses medos, pois são descartáveis.
É difícil, muito difícil. Esse menino, em primeiro lugar, precisa de acolhimento. E, quanto à Polícia Militar de São Paulo, infelizmente essa não tem mais jeito.
Um homem armado ameaça um jovem negro ao lado de uma policial.
Enquanto uma cidadã se coloca diante da arma para defender o jovem, a PM informa que está de folga e que o procedimento seria ligar para o 190. No entanto, quando questionada sobre o motivo de não ter ajudado, ela dá… pic.twitter.com/2dBTdsNfd6
— Africanize (@africanize_) November 14, 2023