POR JOSE RENATO PRADO
A deputada do Partido Comunista Português (PCP) no Parlamento Europeu, Sandra Pereira, disse que a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva representa um sinal de esperança no futuro para o povo brasileiro.
Em entrevista ao DCM, ela citou a atuação do PCP, que denunciou desde o primeiro momento o golpe contra a ex-presidenta Dilma Roussef, e criticou o governo de Jair Bolsonaro (PL), derrotado no pleito deste domingo.
DCM – Como a senhora vê a vitória de Lula para presidente do Brasil?
Sandra Pereira – Consideramos que a vitória da candidatura de Lula da Silva a presidente do Brasil representa um sinal de esperança e de confiança no futuro para o povo brasileiro.
Após o autêntico golpe institucional que visou destituir a presidente Dilma Rousseff em 2016, e da inaceitável e tenebrosa manobra que visou impedir a candidatura de Lula da Silva às eleições presidenciais em 2018, que abriram caminho à instauração de um poder, corporizado por Jair Bolsonaro, e de uma política e projecto profundamente reaccionários com dramáticas consequências para milhões de brasileiros, que viram recuar as suas condições de vida, esta é a oportunidade do povo brasileiro afirmar a vontade de retomar e aprofundar um caminho de progresso social, de desenvolvimento, de soberania, de cooperação e de paz. Um caminho que foi aberto em 2002 com a primeira eleição de Lula da Silva como Presidente do Brasil.
Em Portugal, o PCP denunciou e condenou desde o primeiro momento o golpe contra Dilma Rousseff e a operação contra Lula da Silva, expressando sempre a sua solidariedade com a luta do povo brasileiro em defesa da democracia e dos seus direitos.
DCM – Na opinião da senhora, a vitória de Lula permitirá o retorno das negociações em torno do acordo comercial entre Mercosul e da União Europeia? Em que medida o retorno de Lula beneficiará esse acordo?
Sandra Pereira – Consideramos que um acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia se deve pautar pelo interesse dos povos, respeitar a soberania e os interesses de cada Estado e ser mutuamente vantajoso para todas as partes. Ora, a postura da União Europeia nas negociações não se tem pautado por estes princípios, mas pela imposição dos interesses dos grandes grupos económicos e financeiros, particularmente das grandes potências europeias.
DCM – Quais as expectativas do Partido Comunista Português no Parlamento Europeu com o retorno do Partido dos Trabalhadores e de Lula ao governo brasileiro?
Sandra Pereira – Da parte do PCP consideramos que esse retorno significará a profunda vontade de mudança a que aspiram os trabalhadores e o povo brasileiro, após quatro anos de governo de Jair Bolsonaro e da sua desastrosa política. A vontade de uma outra política que enfrente de forma determinada as profundas injustiças sociais que caracterizam a sociedade brasileira, defenda a democracia e os direitos do povo brasileiro, e promova o desenvolvimento do Brasil como país independente e soberano, no quadro da diversificação das suas relações internacionais, defendendo a paz e a cooperação entre todos os povos.
DCM – Que reflexos a vitória de Lula poderá trazer nas relações entre Brasil e Portugal?
Sandra Pereira – O povo português e o povo brasileiro tem relações históricas, que importa salvaguardar e desenvolver. Consideramos que pela sua história e pelos laços que unem o Brasil e Portugal, o desenvolvimento de relações bilaterais mutuamente vantajosas, fundadas no respeito mútuo devem ser reforçadas e aprofundadas em benefício dos povos de Portugal e do Brasil.
No entanto, ao invés de diversificar as suas relações internacionais, incluindo com o potenciar das suas relações com o Brasil, os sucessivos governos portugueses, estão priorizando o alinhamento de Portugal com as políticas da União Europeia e da NATO (ONU), um política que consideramos contrária aos interesses do povo português.
O PCP defende a diversificação das relações internacionais de Portugal, no quadro do respeito da sua soberania e independência nacional, e aponta igualmente como prioritário o desenvolvimento das relações de Portugal com o Brasil e com os outros países que integram a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), encontrando pontos de vantagem comuns e recíprocos para enfrentar os desafios que se colocam aos respectivos povos.
DCM – Como a senhora avalia o governo de Jair Bolsonaro?
Sandra Pereira – Os quatro anos de governo do presidente Jair Bolsonaro e da sua política foram profundamente negativos para os trabalhadores e o povo brasileiro, para o Brasil. Com sucessivos ataques aos direitos sociais, à democracia, não dando resposta aos graves problemas vividos no Brasil, com um desrespeito profundo pelos direitos dos trabalhadores e povo brasileiro, incluindo o direito à vida, como a sua gestão da pandemia de COVID-19 o demonstrou.
Um governo que procurou dividir o povo brasileiro e que serviu sempre os interesses dos grandes grupos económicos e financeiros e dos sectores mais retrógrados e obscurantista no Brasil.
Um caminho cuja a continuação, estamos confiantes, o povo brasileiro rejeitará já no próximo Domingo.