Guilherme Boulos fala ao DCM

Atualizado em 28 de fevereiro de 2015 às 3:10

passeata água

 

Vinte mil integrantes do MTST marcharam na tarde de ontem até o Palácio do Governo para exigir providências do governo Geraldo Alckmin em relação à “crise hídrica”, eufemismo da moda para irresponsabilidade governamental.

Um boneco representando o governador dentro de uma banheira vazia e sob um chuveiro seco percorreu todo o trajeto empurrado por manifestantes e levado até a frente do portão número 2, para visitantes. Um caminhão pipa também acompanhou, escoltado por “seguranças”.

Após breve negociação, uma comissão foi autorizada a entrar e ser recebida por representantes da Casa Civil e da Casa Militar.

Guilherme Boulos, coordenador do movimento, falou ao DCM sobre as reivindicações:

“Vamos exigir um plano emergencial do governo para lidar com o problema da falta d’água, com o racionamento seletivo que afeta a periferia. Esse plano envolve distribuição de caixas d’água, cisternas, desenvolve a necessidade de perfuração de poços artesianos nas periferias. Ao mesmo tempo, exige ter transparência para lidar com a crise. O primeiro passo é admitir o óbvio: já existe racionamento em São Paulo e é preciso minimizar esse problema com medidas populares. O racionamento, que eles dizem que pode ocorrer ou não, na prática ele já existe mas contra os mais pobres”, disse.

“Mas nós não vamos admitir que só a periferia sofra e carregue nas costas o preço da irresponsabilidade desse governo. A seca que nós vivemos é uma seca de investimentos que acontece porque o dinheiro da conta d’água de cada um, em vez de se destinar para obras e melhorar o abastecimento, esteve virando lucro para acionista. Estamos aqui para denunciar que enquanto o governo e a Sabesp estabelecem multa para aqueles que consomem mais, existem contratos com 500 empresas que quanto mais consomem, menos pagam. O Shopping Eldorado, o Shopping Higienópolis, a Rede Globo, uma série. Queremos o rompimento desses contratos.”

Se essa distinção já é revoltante para quem tem seu teto de alvenaria, não é difícil imaginar o que provoca naqueles que nunca são atendidos por um mínimo de atenção. Nas ocupações tudo é precário. De modo geral ali não tem saneamento básico e fica ainda pior nessa situação.

“A água é cortada às 15:00 e só volta no outro dia pela manhã, às 7:00. A gente precisa de ajuda da comunidade. Estocamos água em baldes para o banho pois quando voltamos do trabalho não tem mais água e pela manhã precisamos sair antes dela voltar”, disse Susan Mara Camargo, que vive na ocupação Estaiadinha desde 2013.

A população que ontem esteve ressentida e irritada com o trânsito formado pelo protesto (mais de um carro bacana passou pela reportagem buzinando e com uma das mãos para fora com o dedo do meio em riste), poderia lembrar hoje cedo que talvez alguns de seu funcionários e empregados domésticos não tenham conseguido tomar um banho decente antes de iniciar mais uma jornada.

 

Os manifestantes em frente ao Palácio dos Bandeirantes
Os manifestantes em frente ao Palácio dos Bandeirantes