Vinte mil integrantes do MTST marcharam na tarde de ontem até o Palácio do Governo para exigir providências do governo Geraldo Alckmin em relação à “crise hídrica”, eufemismo da moda para irresponsabilidade governamental.
Um boneco representando o governador dentro de uma banheira vazia e sob um chuveiro seco percorreu todo o trajeto empurrado por manifestantes e levado até a frente do portão número 2, para visitantes. Um caminhão pipa também acompanhou, escoltado por “seguranças”.
Após breve negociação, uma comissão foi autorizada a entrar e ser recebida por representantes da Casa Civil e da Casa Militar.
Guilherme Boulos, coordenador do movimento, falou ao DCM sobre as reivindicações:
“Vamos exigir um plano emergencial do governo para lidar com o problema da falta d’água, com o racionamento seletivo que afeta a periferia. Esse plano envolve distribuição de caixas d’água, cisternas, desenvolve a necessidade de perfuração de poços artesianos nas periferias. Ao mesmo tempo, exige ter transparência para lidar com a crise. O primeiro passo é admitir o óbvio: já existe racionamento em São Paulo e é preciso minimizar esse problema com medidas populares. O racionamento, que eles dizem que pode ocorrer ou não, na prática ele já existe mas contra os mais pobres”, disse.
“Mas nós não vamos admitir que só a periferia sofra e carregue nas costas o preço da irresponsabilidade desse governo. A seca que nós vivemos é uma seca de investimentos que acontece porque o dinheiro da conta d’água de cada um, em vez de se destinar para obras e melhorar o abastecimento, esteve virando lucro para acionista. Estamos aqui para denunciar que enquanto o governo e a Sabesp estabelecem multa para aqueles que consomem mais, existem contratos com 500 empresas que quanto mais consomem, menos pagam. O Shopping Eldorado, o Shopping Higienópolis, a Rede Globo, uma série. Queremos o rompimento desses contratos.”
Se essa distinção já é revoltante para quem tem seu teto de alvenaria, não é difícil imaginar o que provoca naqueles que nunca são atendidos por um mínimo de atenção. Nas ocupações tudo é precário. De modo geral ali não tem saneamento básico e fica ainda pior nessa situação.
“A água é cortada às 15:00 e só volta no outro dia pela manhã, às 7:00. A gente precisa de ajuda da comunidade. Estocamos água em baldes para o banho pois quando voltamos do trabalho não tem mais água e pela manhã precisamos sair antes dela voltar”, disse Susan Mara Camargo, que vive na ocupação Estaiadinha desde 2013.
A população que ontem esteve ressentida e irritada com o trânsito formado pelo protesto (mais de um carro bacana passou pela reportagem buzinando e com uma das mãos para fora com o dedo do meio em riste), poderia lembrar hoje cedo que talvez alguns de seu funcionários e empregados domésticos não tenham conseguido tomar um banho decente antes de iniciar mais uma jornada.