O FBI divulgou hoje imagens dos suspeitos da explosão e, talvez, esta questão moral esteja atormentando alguém neste exato momento.
O FBI divulgou, há poucos minutos, imagens dos principais suspeitos pelos atentados de Boston, ocorrido na segunda-feira. Você pode vê-los na foto acima; são os rapazes de boné preto e branco, ambos de casaco e com mochila nas costas. Na ocasião, duas bombas foram explodidas durante a maratona da cidade, resultando em 3 mortos e mais de 170 feridos, muitos dos quais perderam membros do corpo em decorrência da tragédia.
A divulgação das imagens parou os Estados Unidos. O site do FBI, provavelmente o mais seguro do mundo, até mesmo caiu devido à quantidade de acessos simultâneos; e as fotos estão estampando as manchetes dos principais sites de notícia do país. A esta altura, portanto, alguém já deve ter reconhecido algum destes rostos.
E isto me fez pensar no seguinte: o que fazer se o suposto autor do ataque for um amigo seu? Note-se, porém, que não falo de uma amizade supérflua, mas sim daquele cara que sempre esteve ao seu lado quando você precisou e que já provou a lealdade a você diversas vezes. É um grande dilema moral. Ele causou, afinal, morte e sofrimento para centenas de pessoas — não apenas aquelas que estavam de fato na maratona, mas de seus parentes e amigos, também.
Trata-se de uma batalha interna entre justiça e amizade. O culpado, afinal, merece responder pela ação e ser punido por isso. Sem contar que, caso ele continue solto, pode repetir a loucura e machucar ainda mais pessoas. Isso justificaria, porém, a traição de um amigo? Pois traição é, sim, a palavra correta. Alguém poderia argumentar: “Traição não se enquadra a este caso. Afinal, ele é um criminoso.” Ainda assim, ele tem a sua confiança, a qual você estará traindo se entregá-lo à polícia.
Um notório jornalista americano do começo do século XX, Walter Winchell, disse o seguinte sobre a lealdade entre dois homens: “O verdadeiro amigo é aquele que anda em sua direção quando o mundo inteiro caminha na oposta.” Gosto desta frase. E, sinceramente, ela me guiaria neste cenário.
Se eu entregaria o amigo? Não. Mas eu o aconselharia a ser homem suficiente de entregar-se às autoridades, para responder pela atrocidade que cometeu. Ou melhor, eu insistiria. Se ele me iria me ouvir? Ou fugir? Ou atirar em mim? Sei lá. Mas eu arriscaria, independente do resultado. Pois não me agrada a ideia de viver o resto dos meus dias com o peso de uma traição sob os ombros — tampouco o peso de nada ter feito pela justiça daqueles que tanto sofreram com as bombas.