Volte pra casa, Bolsonaro. Por Vijay Prashad

Atualizado em 25 de janeiro de 2020 às 20:22
Manifestantes contra a presença de Bolsonaro como líder convidado pelo governo indiano para a comemoração do Dia da República / Bhavreen Kandhari/Twitter

Publicado originalmente no Brasil de Fato:

Por Vijay Prashad

Modi disse que a visita de Bolsonaro é um sinal de aumento das relações entre a Índia e o Brasil. Os laços comerciais cresceram ao longo da última década e meia, desde que os dois países ajudaram a formar o IBAS (Índia-Brasil-África do Sul) em 2003 e mais tarde o BRICS (Brasil-Rússia-Índia-China-África do Sul)em 2009. Mas a verdadeira ligação que interessa a Modi não é a comercial, é a ideológica. Tanto Modi, quanto Bolsonaro fazem parte do surgimento da extrema direita tóxica. Eles governam em nome do capital internacional, do imperialismo e da burguesia local e criam uma base de massas para si mesmos através da promoção de ideias tóxicas contra minorias e migrantes. A combinação Bolsonaro – Modi é feita no inferno.

Mas há outro lado da Índia e do Brasil: as ligações entre fazendeiros e camponeses, estudantes e jovens. As organizações de massa de esquerda do All-India Kisan Sabha [sindicato de agricultores], a Federação Democrática da Juventude da Índia, a Associação de Mulheres Democráticas de Toda a Índia, a Federação Estudantil da Índia (SFI) e outras organizações se reuniram em todo o país para dizer ‘Go Back Bolsonaro’ (‘Volte para casa, Bolsonaro’ na tradução livre). O principal organizador foi a All-India Sugarcane Farmers’ Federation, um membro do Kisan Sabha que tem se irritado com a posição do governo brasileiro contra os produtores de cana de açúcar indianos na Organização Mundial do Comércio.

Mayukh Biswas, que é secretário geral da SFI, disse que os estudantes estão preocupados com a catástrofe climática. O desprezo de Bolsonaro pelos incêndios amazônicos contra os ‘pulmões da terra’ espelha como Modi tem agido em relação à água, à terra e às florestas da Índia. Além disso, a misoginia e homofobia de Bolsonaro, sua guerra contra os povos indígenas e sua visão agressivamente autoritária tem incomodado muitos na Índia. A Índia está no meio de uma grande revolta nacional contra a política de refugiados de visão estreita, miserável, intolerante e anti-muçulmana de Modi. Em 2015, Bolsonaro chamou os refugiados de “escoria da terra”. A declaração divulgada pelas organizações que realizaram o protesto diz: ‘É uma pena que o convidado chefe da Índia desta vez seja um presidente que usa o discurso de ódio para promover sua ideologia ultrapassada e encoraja o uso da violência para resolver as diferenças’.

A Constituição da Índia foi aprovada em 1950. Essa foi a primeira vez que o governo indiano, liderado pelo primeiro-ministro Jawharlal Nehru, realizou um desfile do Dia da República. O convidado principal nessa ocasião foi o presidente da Indonésia, Sukarno. O clima geral em 1950 era de anti-colonialismo e não-alinhamento. Cinco anos mais tarde, Sukarno receberia os países do Terceiro Mundo em Bandung para uma conferência de países asiáticos e africanos. Em 1961, Sukarno e Nehru (junto com o egípcio Gamal Abdul Nasser e o iugoslavo Josef Broz Tito) sediaram a Conferência dos Não-Alinhados em Belgrado. Essa foi uma política do Terceiro Mundo.

Agora, Modi e Bolsonaro têm outro alinhamento. Eles estão com o imperialismo e contra o não-alinhamento. Eles defendem a toxicidade social e são contra a justiça social. É por isso que veio o grito ‘Volte para casa, Bolsonaro. Dentro dele está também o lema ‘Go Back Modi’ (Volte para casa, Modi.