“Vou roubar boy nos blocos de Pinheiros para comprar uma casa para minha mãe”, diz A. F., 13 anos

Atualizado em 2 de março de 2019 às 18:24
A.F. (de branco) no ônibus

TEXTO E FOTOS PAULO ERMENTINO

O ônibus da linha Vila Nova Cachoeirinha / Pinheiros estava lotado de foliões, como ocorreu por toda a cidade de São Paulo, com jovens fantasiados se dirigindo aos blocos da região central da cidade.

Chamava a atenção que em vários bancos que, no dia a dia, transportam duas pessoas, havia três ou até mesmo quatro pessoas espremidas ou sentadas no colo umas das outras.

Estava sentado sozinho um menino que aparentava ter aproximadamente 10 ou 11 anos, usando uma camisa regata, bermuda, chinelo de dedo e chamava muito a atenção por seus pés sujos de barro.

Ele perguntou se o ônibus realmente iria para Pinheiros e se por lá já tinha blocos de carnaval.

Também se teria “boys” por lá. Depois dessa pergunta ele soltou, como quem fala para si mesmo: “Ah, vou roubar uns boys lá”.

Ao ser questionado sobre o perigo de ser pego e ser levado para a Fundação Casa (antiga Febem), ele contou que já tinha 3 passagens pela fundação e como forma de mostrar que já era “bicho solto”, listou os motivos de suas detenções, furto, roubo de moto e tráfico de drogas.

Era estranho ouvir daquele menino que ele já havia participado de um roubo de moto, pois como já foi dito era um menino pequeno e aparentava ter na máximo entre 10 e 11 anos.

Ele afirmou que tinha 13 e para não deixar dúvidas que já era um dos “grandes” disse: “Tenho um irmão que já tem 15 anos e só tem uma passagem, eu só tenho 13 e já tenho 3 passagens”.

Contou também que morava no Jardim Peri, hoje conhecido por ser o local aonde o jogador de futebol Gabriel Jesus viveu, mas logo em seguida disse que não era bem lá, mas no Jardim Vista Alegre, um bairro próximo da periferia no extremo norte da cidade.

Durante esta conversa, o ônibus foi esvaziando ao passar pelos bairros da Barra Funda, Pompeia e Perdizes e outros dois meninos um pouco maiores que ele e estavam mais ao fundo o reconheceram e o chamaram: “Di menor, ô di menor, chega mais aí”. 

E recomeçou a conversa de reconhecimento entre os três no meio dos foliões que restavam: “É aí? Tem passagem? Por quê? Da onde é?”.

Os três  pareciam não se conhecer, mas gesticulavam da mesma forma, vestiam-se da mesma jeito, camiseta, bermuda e chinelo de dedo, contrastando com os demais que estavam bem arrumados ou em suas fantasias. 

Ao responder uma última questão sobre qual motivo o levava a roubar, tentou justificar e disse: “Vou comprar uma casa para minha mãe, nós vamos ser despejados do morro que vivemos”. 

Se já era difícil pensar que aquele menino que deveria estar brincando com outras crianças e não tinha idade nem para brincar de Carnaval e estava indo a um bloco para roubar, foi extremamente dolorido escutar que seu desejo era dar um lar para sua mãe.