POR ÁTILA DRELICH, de Israel
A medida que o cerco contra o governo Bolsonaro vai se fechando, curiosamente, a narrativa de seus operadores políticos recorre cada vez mais, à simbologia dos eventos que cercam o Holocausto.
O uso reiterado de comparações entre a perseguição desferida contra o povo judeu, no período compreendido entre anos de 1930 a 1945 e os dissabores legais vividos por um governo de forte inspiração totalitária, indica a completa ausência de capacidade política deste governo para responder adequadamente às suspeições a que vem sendo submetido.
Deixando de lado qualquer escrúpulo, o ministro da Educação age cada vez mais como uma espécie de blitzkrieg de um governo natimorto, quando tenta colar a sua desgastada imagem ao horror vivido por 6 milhões de judeus.
Não por outra razão, o Museu do Holocausto tanto no Brasil, quanto em Israel, bem como o Comitê Judaico Americano, além da Embaixada de Israel no Brasil e a CONIB, juntamente com as suas afiliadas, já perderam a paciência com essa forma imoral de apropriação da dor inflingida ao nosso povo.
Fica cada vez mais evidente, ao contrário do que afirmou o secretário de comunicação Fábio Wajngarten, que há uma clara decisão política, que é compartilhada tanto pelo Presidente da República, quanto por seus Ministros, de banalizar a memória do povo judeu por meio do uso frequente dos acontecimentos terríveis que se abateram sobre o nosso povo.
A recente comparação, feita pelo Ministro da Educação entre os eventos que tiveram lugar na Noite dos Cristais, com as decisões exaradas pela Corte Suprema da justiça brasileira, é profundamente ofensiva, pois rebaixa o Genocídio perpetrado contra milhões de seres humanos, a uma simples querela judicial.
A maior parte da comunidade judaica brasileira já não aceita mais essa manipulação dos fatos que tanta dor evocam em nosso povo e o completo desrespeito desse governo, à memória das milhões de vidas perdidas para o ódio antissemita.
Não desapareceu de nossa memória aquele teatro do absurdo envolvendo o ex-Secretário de Cultura Roberto Alvim e ainda aguardamos uma retratação pública do Ministro das Relações Exteriores por suas desairosas declarações.
Nossa comunidade segue bastante atenta, a esse jogo de duplos significados que ora usa a ópera de Richard Wagner e ora usa copos de Leite, para transmitir valores que nos são odiosos.
Houve um aumento da frequência de uso do Holocausto no discurso público, que de forma não intencional banaliza sua memória e a tragédia do povo judeu. Pela amizade forte de 72 anos entre nossos países, pedimos que a questão do Holocausto fique à margem da política e ideologias. pic.twitter.com/MbS0dUi1FH
— Israel no Brasil (@IsraelinBrazil) May 28, 2020