Publicado originalmente no Público
“Grátis se for para atirar a um ‘zuca’ (que passou à frente no mestrado)”, lia-se num cartaz colado a uma caixa de madeira com pedras lá dentro.
A instalação apareceu esta segunda-feira, junto a uma banca nos corredores da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL). O acto foi imediatamente repudiado por alunos brasileiros da faculdade como uma demonstração de “xenofobia” e de “incitação à violência”.
Eu faço mestrado na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, certo? Pois bem. Olha o que os alunos portugueses deixaram agora no meio da faculdade. “Zuca” significa brazucas. Nós, brasileiros. Dentro, pedras. pic.twitter.com/ErDUP9nNiK
— exauata (@thatsanoformek) April 29, 2019
“É inaceitável que uma universidade centenária como a UL aceite tais tipos de ato, que propagam a discriminação entre os povos e raças, além de disseminar a violência”, denunciou ao PÚBLICO um aluno de mestrado daquela faculdade.
Inicialmente, e em comunicado, a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa começou por contextualizar o incidente, explicando que, “aproximando-se a data das eleições” para a Associação Acadêmica da Faculdade de Direito de Lisboa, “estão em curso ações de campanha organizadas pelos estudantes” num “espaço de liberdade de opinião e de incentivo à participação cívica responsável, convivendo com a autocrítica, o humor e a sátira”.
No entanto, e reafirmando “o respeito por todos os alunos, assim como com a respectiva diversidade cultural, étnica ou de proveniência”, a direção da faculdade afirma que, “mesmo em campanha eleitoral para os órgãos associativos dos estudantes, não serão toleradas quaisquer ações ofensivas relativamente a alunos” da instituição.
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Processo disciplinar só após “ponderação mais cuidada”
Ao PÚBLICO, porém, a subdiretora da faculdade, Paula Vaz Freire, dissocia o ato da campanha eleitoral: “Tratou-se de uma ação de um grupo que se chama ‘Tertúlia’ que faz ações satíricas à margem da campanha eleitoral. Portanto, nem é sequer um movimento que concorra às eleições para a Associação Acadêmica”.
O cartaz, explica a dirigente, foi imediatamente retirado das instalações. “A partir do momento em que a direção tomou conhecimento, pediu de imediato para que fosse retirado o cartaz com uma alusão tida como ofensiva para alunos brasileiros”, afirma Paula Vaz Freire, reiterando que “a direção naturalmente repudia quaisquer atitudes impróprias de carácter xenófobo ou discriminatório”.
Os responsáveis pela ação foram identificados e a faculdade sublinha ter “todo o interesse em apurar os factos e agir em conformidade com aquilo que é a legalidade”. Porém, a subdiretora explica que “não há, neste momento, da parte da faculdade, qualquer decisão relativamente a procedimentos disciplinares que poderão ou não ser tomados”.
“Isso será objecto de uma ponderação mais cuidada e não em cima do acontecimento”, acrescentou Paula Vaz Freire.
Já o reitor da Universidade de Lisboa, António Cruz Serra, garantiu à agência Lusa que vai avançar com um processo disciplinar ao sucedido nesta segunda-feira na Faculdade de Direito. “Não é admissível na UL nenhum comportamento de xenofobia e serão tomadas posições para punir exemplarmente os responsáveis”, disse o reitor.