Publicado originalmente no blog do autor
A pressão surtiu efeito. Da mesma forma misteriosa e unilateral com que, na sexta-feira (25/12), o Youtube cassou um canal de notícias que por mais de uma década presta relevante serviços à sociedade, neste sábado, também sem explicações – mas provavelmente cedendo às pressões – a plataforma voltou a apresentar o noticiário que censurou.
Trata-se do Canal Papo de Mãe, voltado notadamente às mães e chefes de famílias, veicula informações em torno de maternidade, paternidade e vida familiar. São reportagens, entrevistas e conversas em torno, especialmente, da educação das crianças e de problemas relacionados à vida doméstica.
O Youtube, que deveria ser visto como uma plataforma livre de notícias diversas, censurou, no melhor estilo dos governos autoritários, o canal mantido pelas jornalistas Mariana Kotscho e Roberta Manreza. Agiu como muitos donos de meios de comunicação que impedem a publicação de notícias que desagradem seus interesses ou grupos de amigos. Sem qualquer explicação. A pressão começou a surgir no sábado, com notícias veiculadas pelas redes sociais e notas de protesto, como da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). No início da noite, o canal foi recolocado na plataforma, sem qualquer comunicado às suas editoras.
A censura do Youtube repercutiu mal. Até por ter ocorrido na mesma época em que a chamada mídia independente debate sobre o que se denominou “assédio judicial” – perseguições promovidas por juízes a jornalistas, notadamente os independentes, através da censura direta ou de condenações a indenizações estratosféricas, que inviabilizam a continuidade do trabalho. Assunto muito bem explorado pelas jornalistas Lia Ribeiro, em parceria com Leda Beck, no site da Associação Profissão Jornalista (APJor), no artigo “Cala-boca” da justiça sufoca a mídia independente, cuja leitura é mais do que recomendada.
No final da noite de sábado as editoras do site Papo de Mãe receberam do Youtube a seguinte explicação: “O YouTube conta com uma combinação de inteligência de máquina e revisores humanos para identificar, avaliar e remover conteúdo que viola nossas diretrizes de comunidade. Sabemos que esses sistemas estão sujeitos a erros. O canal Papo de Mãe foi encerrado após uma detecção automática de uma violação às nossas políticas de spam, práticas enganosas e golpes. Fizemos uma revisão e identificamos que não houve violação. Todos os vídeos foram restabelecidos e o canal está funcionando normalmente.”
A explicação não convence. À medida que cassou o portal Papo de Mãe, ao que parece estava diretamente relacionada com a publicação, por Mariana Kotscho, de um furo de reportagem: o comportamento do juiz do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Rodrigo de Azevedo Costa, em uma audiência na Vara de Família por ele presidida. Ele apreciava um caso de violência doméstica, em que a mulher se queixava das ameaças do ex-marido. Caso típico a ser resolvido com base na Lei Maria da Penha.
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