As canções podem ter o poder de um remédio de tarja preta — e salvar você
“Informação não é conhecimento. Conhecimento não é sabedoria. Sabedoria não é verdade. Verdade não é beleza. Beleza não é amor. Amor não é música. Música é o melhor. – Frank Zappa”
A música rege minha vida. Marca meus passos. Acerta meu ritmo. Ficaria demente sem ela. Desde criança aprendi a possuir música para ter acesso a ela sem depender de ninguém. Com meu pai guardei discos 78RPM de música caribenha. Depois fiz reservas de rock, clássico e jazz. Reuni a obra de Frank Zappa, Joseph Haydn, Moreira da Silva e James Brown.
Essa “posse” já teve a cara de LPs de vinil, fitas cassete, CD’s, SACD’s, minidiscs e DVD-As. Hoje, ouço música em formato MP3, que me acompanha aonde vou como um remédio tarja preta, a solução para qualquer crise. Passei quase todas as minhas coleções de vinil, cassete e CD para MP3. É só o começo da devoção.
Copiar CDs no PC ou baixar músicas todo mundo faz. Tento ir além. Transformo a administração desse tesouro em arte e meditação. Trato minhas músicas como preciosos remédios para a alma, a mente e o corpo. Só uso a maior definição possível: 320kbps. Ocupa espaço, eu sei. Qual o problema se você tem um HD de 1 TB? Ou pode carregar um pen drive de 64GB no pescoço?
Nomeio cada faixa com o nome do intérprete, espaço, traço, espaço, título da música. Se necessário, corrigo as tags no Winamp. É um dos segredos da meditação musical: a padronização. É como separar gráos de areia, montar miniaturas de avião ou cultivar bonsais. Esvazia a mente. Nome, espaço, traço, espaço, título.
Mas padronizar não é misturar tudo na pasta Minhas Músicas. Uso três tipos de organização:
1) Dependendo do caso, mantenho o formato do CD. Quando ele é marcante, não mudo nada. Deixo (e geralmente ouço) na ordem. Uso também para artistas que criaram discos conceituais, como os Beatles. E, claro, para música clássica.
2) Crio coletâneas para artistas que não precisam estar em álbuns, gosto das músicas, não importa o disco: Kurtis Blow, Gerson King etc.
3 ) Faço o mesmo com gêneros. Tenho uma pasta de funk music, outra de bossa nova, blues, não interessa quem os interprete.
Organizadas e identificadas, chega o momento de transferir milhares de músicas para o iPhone e o iPad. O toque final vem (no iTunes) com a cuidadosa escolha de uma capa para cada álbum. Busco na internet (ou escaneio) capas em alta definição, para abri-las no iPad. Assim volto às grandes capas dos vinis, que a gente admirava como quadros no Louvre. Se é um CD que reformatei em MP3, uso a capa do disco, a melhor reprodução possível. Se é um gênero ou um artista, crio a minha própria. Sem capa, não entra.
Muitos tomam esse cuidados. Outros acham uma perda de tempo e não se importam de ler coisas como “madona_reyoflith.mp3”. Para mim, isso é desrespeito à mais vital das artes. Canários cantam, baleias cantam, cigarras cantam. O universo é uma vasta sinfonia de sons e ritmos. Música é o melhor.
Publicado originalmente na revista Info