De acordo com especialistas, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, buscou constranger e pressionar o governo brasileiro ao insistir em um encontro bilateral com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para discutir o conflito que seu país trava com a Rússia.
Segundo especialistas ouvidos pela Folha de S.Paulo, o líder ucraniano explora as críticas feitas ao posicionamento do governo Lula sobre a guerra.
Em encontro com a imprensa, Zelenski criticou o que chamou de falta de vontade e de tempo do petista para se encontrar com ele no mês passado em Hiroshima, na cúpula do G7. Ele ainda disse que o desencontro que impediu a reunião no Japão não foi culpa de Kiev, o que contradiz afirmações de Brasília.
“O presidente Lula está fugindo de um encontro com Zelenski. E a insistência do ucraniano faz com que o Brasil fique na defensiva e em posição desconfortável para se dizer neutro”, diz Gunther Rudzit, especialista emESPM
segurança internacional e professor de relações internacionais da ESPM.
Rudzit também afirmou que a tentativa de constranger o governo brasileiro tenta forçar o Brasil a se posicionar de forma mais firme. A estratégia é justificada pela liderança exercida pelo Brasil sobre outros países na América Latina.
“O encontro de Lula com líderes sul-americanos mostra o peso do Brasil na região e, por isso, existe essa disputa dos dois lados pelo apoio brasileiro. Não podemos esquecer que Serguei Lavrov foi a Brasília com trajes esportivos, querendo transmitir a imagem de que estava entre amigos”, disse Rudzit.
Já Regiane Bressan, professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ressaltou que a Guerra da Ucrânia ocorre num momento em que os países do chamado “Sul Global”, que vem tentando manter neutralidade, são mais disputados pelas potências globais.
“O conflito acontece no momento de redirecionamento dos polos do poder no mundo. Se antes a influência era exercida por Rússia e EUA, agora a China vem ocupando um papel cada vez mais importante na América Latina, buscando maior influência na região”, diz Bressan.
Zelenski, no entanto, se disse disposto a ouvir as propostas de Lula para acabar com a guerra. Além disso, Brasília defende a criação de um “clube da paz” formado por países não alinhados a nenhum dos lados do conflito para negociar o fim da invasão.